Um homem que tem como "loucura" a "leveza", oferece, em palavras, a âncora da amizade. Há mais de vinte anos, encontramo-nos na borda do cais, pedra que nos fixa ao topo, e, em cada partida, renovamos o tempo da esperança.
Falo do Nuno, e vejo-o, através do seu belo "Auto-retrato".
Sou,
mas a minha paixão é aquilo
que não sou
se pelo ser rastejo sinuoso no pó
dorso horizontal de réptil
pelo não ser o meu corpo de águia
anseia pela carícia das estrelas
e as neves sempre renovadas
de inauditos himalaias
se o peso é o meu destino
a leveza é a minha loucura
a minha doença são os cais
se fico gostaria de não ficar
ir nos comboios que partem e nos
outros que faço partir
que itinerário o do meu sonho?
viagem a uma geografia interior e arenosa
ao espaço exacto entre o cais e a partida
que os dedos azuis do sonho esboçam e anulam
quem sou eu?
que labirinto percorre o meu desejo?
hei-de perguntar ao vento.
Nuno Pinto
sophia de mello breyner andresen