A criação artística e a obra de arte
" Ninguém espera da música ou da arquitectura que reproduzam a realidade sonora nem o mundo das formas que podemos ver na natureza. São linguagens, artes da combinação e da composição de signos e de formas. Pode acontecer que a música reproduza instrumentalmente o som de um fenómeno real, como uma tempestade ou o ruído de uma batalha. Assim, "O amor" ou "vento na planície" são o tema de composições de Claude Debussy. Mas não reproduzem esses fenómenos exactamente: transfiguram-nos, evocam-nos, não os imitam. Uma tempestade numa ópera não é uma tempestade, é música.
Por que razão o que é evidente numa arte como a música deixaria de o ser em pintura? Por que não chamamos ao pintor um "compositor" tal como o fazemos com o músico? Estará o pintor vocacionado para copiar o mais exactamente possível o que é dado ao seu olhar? A sucessão de notas músicais não é uma sucessão de ruídos naturais. Por que razão pensar que o que vemos sobre a tela deve ser o que vemos no mundo?"
Hervé Boillot, 50 modèles de dissertations philosophiques. (adaptado)
Joseph Wright of Derby, 1768, Experiência com um Pássaro numa Bomba de Ar
O quadro de Wright é um brilhante resumo dos interesses e atitudes característicos de meados do século XVIII: a Idade da Razão. Um grupo de amigos reuniu-se em casa de um deles para assistir a uma dramática experiência científica, demonstrativa do poder do homem sobre a vida e a morte. O pintor mostra-nos uma grande variedade de reacções dos amigos, pelo que o quadro consegue englobar as esperanças e receios da época, e dá-nos que pensar quanto à nossa, ao enfrentarmos as mudanças resultantes das mais recentes descobertas científicas. Wright era um mestre menor, mas aqui produziu sem dúvida uma obra-prima da mais alta qualidade: tecnicamente perfeita, visualmente agradável e moral e intelectualmente provocante.
R. Cumming
Van Gogh inventou o amarelo quando queria pintar e já não havia sol.
Jean-Luc Godard
Campo de trigo e ceifeiro - Van Gogh
Diz Tolstoi que a arte não é nem a manifestação da ideia de belo nem um jogo que serve para descarregar a energia acumulada. A arte, para este grande escritor russo, é uma forma de as pessoas se relacionarem, indispensável à vida e ao progresso da humanidade.
Abençoado seja o que inventou o sono, a manta que cobre todos os pensamentos humanos (...).
M. Cervantes
O Sono, Salvador Dali
Preenchendo o descanso activo, caminho pela arte. Paro em Magritte. Isto não é um cachimbo? Não, não é, diz o pintor belga surrealista. Claro, um cachimbo de verdade é um objecto que serve para fumar. Com esta imagem a acção é impossível. A questão não é simples, parte da relação entre a representação e o que ela representa. De repente, vejo que o problema é antigo. Moisés proibiu o seu povo de adorar ídolos, porque nenhuma representação de Deus é Deus.
Uma visão que maravilhou o artista, diz-se.
Em pequenas pinceladas, bucólicas, Monet dá-nos um Outono concentrado de arte e natureza.
Entre as margens, em silêncio e solidão, recolhemos uma geografia de emoções.
Um momento que permite compreender que na arte a Verdade não é tudo; a arte é desvelamento da verdade do artista.
A famosa ponte japonesa, retratada por Monet em 45 obras.
Graça Morais, uma das grandes pintoras contemporâneas, foi a vencedora da 6ª edição Prémio de Artes Casino da Póvoa.
Temos a arte para não morrer da verdade.
Nietzsche
O Homem que Anda, de Giacometti, representa a arte como forma de estilização do real. Mas é essencialmente um grande símbolo da evolução da humanidade; e de humanidade. Uma linguagem que exprime a apropriação e a comunicação do sentido da vida.
Ó céu azul - o mesmo da minha infância - Eterna verdade vazia e perfeita!
Fernando Pessoa
A Gaivota, Nadir Afonso
Duas coisas me enchem a alma de crescente admiração e respeito, quanto mais intensa e frequentemente o pensamento delas se ocupa: o céu estrelado sobre mim e a lei moral dentro de mim.
Kant
Van Gogh, Noite Estrelada
A apreciação musical é mais introspectiva se comparada com a de pintura ou de literatura.
A apreciação musical apela a um tempo de duração indizível que não pode ser aprisionado no discurso. É pela superfície que reagimos às múltiplas emoções e impressões vividas que acompanham uma obra musical e cujos sons-em-contexto escapam ao controle da consciência.
Na pintura e na literatura há tempo para elaborar discursos conscientes. Na música, há mais silêncio; sonho solitário.
A apreciação da música é uma experiência mais solitária e privada do que a apreciação da pintura ou da literatura. Ouvir música é mais como sonhar; a nossa actividade imaginativa é largamente solitária. Tu e eu ficcionalmente.
Walton
A história das relações entre a arte e a matemática teve um ponto de partida mais ou menos definido, mas que nunca mais acabou.
Michel Emmer, 2007
Ontem, Nadir Afonso disse-me que a obra de arte é um espectáculo de exactidão.
sophia de mello breyner andresen