Quinta-feira, 19.03.15

Vem dos lados do rio, as mãos fresquíssimas, algumas gotas de água ainda nos cabelos. Com a manhã chega o anónimo respirar do mundo. Um cheiro a pão fresco invade o pátio todo. Vem dos lados do rio: para levar à boca, ou ao poema.

 

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Segunda-feira, 20.01.14

 

XI

 

Olhos postos na terra, tu virás

no ritmo da própria primavera,

e como as flores e os animais

abrirás nas mãos de quem te espera.

 

Eugénio de Andrade, As Mãos e Os Frutos, Limiar, p. 41

(Póvoa de Atalaia, 19 de Janeiro de 1923 — Porto, 13 de Junho de 2005)



publicado por omeuinstante às 22:23 | link do post

Sexta-feira, 31.08.12

Que tristeza tão inútil essas mãos 
que nem sempre são flores 
que se dêem: 
abertas são apenas abandono, 
fechadas são pálpebras imensas 
carregadas de sono.


Eugénio de Andrade



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Terça-feira, 21.08.12

Acorda-me
um rumor de ave.

Talvez seja a tarde 

a querer voar.

 

A levantar do chão

qualquer coisa que vive,

e é como um perdão

que não tive.

 

Talvez nada.

Ou só um olhar

que na tarde fechada

é ave.

 

Mas não pode voar.

Eugénio de Andrade, Os Amantes Sem Dinheiro ( 1947-1949), Limiar, pág 92



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Segunda-feira, 02.07.12

É a música, este romper do escuro.
Vem de longe, certamente doutros dias,
doutros lugares. Talvez tenha sido
a semente de um choupo, o riso
de uma criança, o pulo de um pardal.
Qualquer coisa em que ninguém
sequer reparou, que deixou de ser
para se tornar melodia. Trazida
por um vento pequeno, um sopro,
ou pouco mais, para tua alegria.
E agora demora-se, este sol materno,
fica comigo o resto dos dias.
Como o lume, ao chegar o inverno.

Eugénio de Andrade, Os Sulcos da Sede 



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Domingo, 22.04.12

Entre pinheiros

três casas.

Uma azenha parada.

Uma torre erguida

de fraga em fraga

contra o céu de cal.

E um silêncio talhado

para o voo de um moscardo

alastra de casa em casa,

sobe à torre abandonada

e sobe a azenha parada

tomba desamparado.

 

Eugénio de Andrade, Obra de Eugénio de Andrade / 1 – Primeiros Poemas, Porto,

Fundação Eugénio de Andrade, 2004



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Segunda-feira, 09.04.12
Caminha devagar:
desse lado o mar sobe ao coração.
Agora entra na casa,
repara no silêncio, é quase branco.
Há muito tempo que ninguém
se demorou a contemplar
os breves instrumentos do verão.
Pelo pátio rasteja ainda
o sol. Canta na sombra
a cal, a voz acidulada.
Eugénio de Andrade in O Peso da Sombra

 


publicado por omeuinstante às 23:25 | link do post

Sexta-feira, 16.03.12

E de súbito desaba o silêncio.
É um silêncio sem ti,
sem álamos,
sem luas.

Só nas minhas mãos
ouço a música das tuas.

Eugénio de Andrade



publicado por omeuinstante às 09:00 | link do post

Segunda-feira, 23.01.12

Guardo na minha pele esta viagem. Para sentir o lento movimento dos dias.

 

Uma coisa é habitar a pele, 

outra, ter a noite por fragata.


Eugénio de Andrade 



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Sexta-feira, 09.12.11

Surdo, subterrâneo rio de palavras
me corre lento pelo corpo todo;
amor sem margens onde a lua rompe
e nimba de luar o próprio lodo.

Correr do tempo 
ou só rumor do frio
onde o amor se perde e a razão de amar
- surdo, subterrâneo, impiedoso rio,
para onde vais, sem eu poder ficar? 

 

Eugénio de Andrade



publicado por omeuinstante às 17:49 | link do post

Quinta-feira, 03.11.11

Nada podeis contra o amor.
Contra a cor da folhagem,
contra a carícia da espuma,
... contra a luz, nada podeis.

Podeis dar-nos a morte,
a mais vil, isso podeis
- e é tão pouco.

Eugénio de Andrade



publicado por omeuinstante às 09:00 | link do post

Segunda-feira, 26.09.11

Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém – mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar.
Para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.

Eugénio de Andrade



publicado por omeuinstante às 12:00 | link do post

Quarta-feira, 14.09.11

Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.

Eugénio de Andrade



publicado por omeuinstante às 10:09 | link do post

Quinta-feira, 08.09.11

E de súbito desaba o silêncio.
É um silêncio sem ti,
sem álamos,
sem luas.

Só nas minhas mãos
oiço a música das tuas.

Eugénio de Andrade.



publicado por omeuinstante às 10:03 | link do post

Domingo, 28.08.11

Despe-te
Não há outro caminho.

Eugénio de Andrade

 



publicado por omeuinstante às 16:00 | link do post

Sábado, 13.08.11

‎Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca...

Eugénio de Andrade



publicado por omeuinstante às 18:00 | link do post

Sexta-feira, 22.07.11

A mão
que entregava à tua
os primeiros sinais de verão

já não sabe o caminho- é como se 

em vez de aprender fosse cada vez mais

e mais ignorante. Ou ignorar

fosse todo o saber.

Eugénio de Andrade 



publicado por omeuinstante às 10:00 | link do post

Sexta-feira, 06.05.11

Ao silêncio que me espera em cada esquina

 

ofereço o ramo ardente dos meus olhos.

 

 

 Eugénio de Andrade



publicado por omeuinstante às 12:35 | link do post

Domingo, 01.05.11

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe.

Tudo porque já não sou
o menino adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...

Mas - tu sabes - a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

Eugénio de Andrade




publicado por omeuinstante às 10:15 | link do post

Quinta-feira, 28.04.11

Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um

- Eu vi a terra limpa no teu rosto,
Só no teu rosto e nunca em mais nenhum.

 

Eugénio de Andrade



publicado por omeuinstante às 11:00 | link do post

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Sem a música, a vida seria um erro. Nietzsche
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