Sábado, 12.03.16

 

Mas de onde vem esta manhã que, apesar de tudo,
não nos abandona? Somos privilegiados.

 

Gonçalo M. Tavares, Uma Viagem à Índia



publicado por omeuinstante às 18:31 | link do post

Sábado, 16.11.13

 

Canto I

 

49

Não é por acaso que não consegues, por mais que tentes,

atingir em cheio o dia - qualquer que ele seja - 

como se faz às baleias com um arpão.

Os dias têm um invólucro espesso,

uma armadura do material mais resistente que existe:

tudo aquilo de que não se sabe onde está o centro

está seguro.

Assim são os nossos dias que bem queríamos aniquilar

com um arpão. Baleia absurda, sem corpo,

o tempo.

 

Uma Viagem à Índia, Gonçalo M. Tavares, Caminho, pág. 46


 



publicado por omeuinstante às 17:19 | link do post

Quarta-feira, 13.03.13


                        Canto V - 60

Mas não sejamos pessimistas. Até os pintores

dizem estar a surgir, por estes tempos,

um cesto cheio de novas cores.

Certos tratamentos químicos contemporâneos têm sido

experimentados à luz do sol,

e esta parece finalmente perceber o progresso.

Em pleno século XXI já não fazem sentido astros teimosos

e autónomos.


Gonçalo M. Tavares, Uma Viagem À Índia, Caminho, pág 229.



publicado por omeuinstante às 00:05 | link do post

Sábado, 28.07.12

Se na água um açúcar fraco se dissolve,

já num corpo de homem as histórias mantêm-se

num sítio do organismo que guarda as narrativas
(vamos supor que existe).

Nada se perde, nada se ganha; tudo é empate

como nos maus jogos. Porém, a memória não é assim

- quem relembra inventa: tudo começa de novo.

 

Gonçalo M. Tavares, Uma Viagem à Índia, Caminho, pág. 120 



publicado por omeuinstante às 19:17 | link do post

Segunda-feira, 14.05.12

Não procures uma multidão sincera

porque tal não existe.
Quando numerosos, os homens, os animais,

as plantas, as pedras e até as máquinas

perdem a higiene do raciocínio individual;

e, se abrem a janela que dá para o jardim,

é para cuspir, nunca para te dizer adeus.

Gonçalo M. Tavares, Uma Viagem à Índia, Caminho, pp 84-85 



publicado por omeuinstante às 09:00 | link do post

Quarta-feira, 14.12.11

Porque o bosque é tranquilo,

(como se tivesse sido organizado por 

um poeta chinês antigo.) Ramos castanhos

recebem o vento incolor com a alegria

da tela que recebe as mais intensas tintas.

Vento tão lento que parece um provérbio natural. Os instantes existem, 

mas parecem recuperáveis. Nem o tempo se perde, ali,

onde nenhum ruído da cidade entra.

 

Gonçalo M. Tavares, Uma Viagem à Índia, Caminho, p.386



publicado por omeuinstante às 18:01 | link do post

Segunda-feira, 24.10.11

O medo, neste século, já não é um produto artesanal.

Os aviões bombardeiros

- ou, em tempo de paz, as falências imprevistas-

impressionam pela tecnologia posta em acção.
Hoje, passa-se fome de modo bem mais moderno

do que no século XVIII, por exemplo.

 

Gonçalo M. Tavares, Uma Viagem à Índia, Caminho, p. 155



publicado por omeuinstante às 09:00 | link do post

Domingo, 05.12.10

De que é feito um país cobarde?

Bloom responde: é feito de muitos homens corajosos.

 

Gonçalo M. Tavares, Uma Viagem à Índia, Caminho, p177



publicado por omeuinstante às 18:43 | link do post

Domingo, 31.10.10

Um canto - tal como um conto -, pode ser sempre re-contado. O canto camoniano permite leituras marginais face à matéria épica narrada. O Texto de Gonçalo M. Tavares envolve o pensamento no mesmo exercício.

 

A questão é que um país já nem

se preocupa se fabrica ou não poetas.

E até a própria fábrica não tolera restos:

toda a matéria deverá ser aproveitada,

como uma prostituta hábil aproveita todos os recantos

do seu corpo. Os países perderam estilo,

ganharam accionistas.

 

Gonçalo M. Tavares, Uma Viagem à Índia, Prefácio de E. Lourenço, Caminho, 1ª edição, canto IV, p 175



publicado por omeuinstante às 18:23 | link do post

Terça-feira, 26.10.10

A propósito do livro de Gonçalo M. Tavares, Uma Viagem à Índia, Eduardo Lourenço, no Prefácio, diz:

 

“Uma Viagem à Índia, com consciência aguda da sua ficcionalidade, navega e vive entre os ecos de mil textos-objecto do nosso imaginário de leitores. Como todos os grandes livros, e este é um deles." E "que todas as viagens são sempre um regresso ao passado de onde nunca saímos".


Gonçalo M. Tavares parte de um grande objecto ficcional e relata-nos a viagem existencial de um homem.

Todas as viagens são um regresso à Índia. À nossa infância.

A ler.



publicado por omeuinstante às 21:04 | link do post

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Sem a música, a vida seria um erro. Nietzsche
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