Migrant Mother de Dorethea Lang (1936)
Fotografar é colocar na mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração, diz Henri Cartier-Bresson.
Vale mais sofrer a injustiça do que cometê-la.
Sócrates
A Natureza é como uma mulher pública. Devemos domá-la, penetrar os seus segredos e subjugá-la à nossa vontade.
F. Bacon
roubado de SEA
Os portugueses vivem permanentemente entre dois mundos: o caótico indesejado e um ideal revelado que chegue não se sabe de onde.
Esta oposição encerra o tom em que tecemos a labiríntica História de sinais apocalípticos.
Chegou o tempo de existirmos e de nos vermos tais quais somos, diz Eduardo Lourenço em O Labirinto da Saudade.
Navegar continua a ser preciso.
Simone de Beauvoir (1908-1986) foi atrevidamente escritora, filósofa e mulher.
Dedicou aos livros e ao estudo um amor apaixonado; quase sensual.
A sofreguidão de viver colou-se à do saber.
Encontrou, é verdade, quem a levasse por caminhos que queria ir: aprendi também que para entrar no segredo das coisas é preciso entregar-se primeiro a elas.
Sartre foi o mediador. Pela sua mão dá-se a confrontação do eu com a consciência do outro.
Esta constatação limita a liberdade. O eu já não vive de forma absoluta antes está no mundo em relação com o estar - do -outro.
A liberdade torna-se não a possibilidade de fugir ao mundo mas facto no mundo.
É nesta fenda que O Segundo Sexo revela o seu sentido. Obra marcante devido à acidez analítica com que Simone recupera as categorias que historicamente aprisionam a mulher: a social e a política, a sexual e a psicológica.
Ouso apresentar esta passagem como conselho:
É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta.
É o teu rosto ainda que eu procuro
Através do terror e da distância
Para a reconstrução de um mundo puro.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Poética Mar Novo, Caminho, pp 10
Quanto Mais Amada Mais Desisto
De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto:
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.
E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.
Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.
Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.
Natália Correia
Oferecido por Deusas e Mulheres
Reedição
Calígula, naturalmente - Bom dia, Helicon. (silêncio.)
Helicon - Pareces fatigado?
Calígula - Andei muito.
Helicon - Sim, a tua ausência foi longa. (Silêncio.)
Calígula - Era difícil de encontrar.
Helicon - O quê?
Calígula - O que queria.
Helicon - E que querias tu?
Calígula - A Lua.
Helicon - O quê?
Calígula - Sim, eu queria a Lua.
Albert Camus, Calígula, Livros do Brasil
Quem é sujo, suja o que diz.
Miguel Torga, Diário XVI, Coimbra
O que o homem busca nos seus deuses,
na sua arte, na sua ciência é o significado.
Ele não consegue suportar o vazio.
François Jacob
Imagine que um dia alguém se aproxima de si na rua e em vez de lhe perguntar polidamente as horas, ou onde fica a rua tal, lhe perguntava com a maior naturalidade: importa-se de me dizer se sabe pensar?
(...)
Poucas pessoas terão alguma vez na vida perdido um minuto do seu sono a pôr ou a tentar resolver essa questão. Mas todas as pessoas perderam - e perdem continuamente - muito mais do que um minuto, uma hora ou uma noite inteira do seu sono, por não saberem pensar - por não quererem saber pensar.
Quero filhos, quero whisky, quero um ideal, quero uma casa de campo, quero um automóvel, quero um bife de lombo, quero a eternidade, quero um perfume francês - mas nunca ouvi da boca de ninguém isto: quero saber pensar.
João de Sousa Monteiro, Tire a Mãe da Boca, Assírio & Alvim, Lisboa, págs. 34 e 35.
Censuro-me por ter permitido que uma amizade não intelectual, uma amizade cujo fim primeiro não foi a criação e contemplação das coisas belas, dominasse inteiramente a minha vida.
Oscar Wilde, De profundis, Relógio D`Agua, Tradução Maria Célia Coutinho, 2001, pp 11
sophia de mello breyner andresen