A ideia de que a arte tem valor em si mesma, independentemente da sua finalidade , é recente. Surge com o Romantismo, em França, e foi defendida por figuras como o poeta Baudelaire.
Para Oscar Wilde a arte não tem qualquer função. Em O Crítico como Artista, refere que o valor da arte está acima daquilo que a própria razão pode compreender. Ousa afirmar que a estética é algo mais que a ética.
É o decadentismo. Atitude que considera irrelevante apreciar obras de arte através de valores que não os da própria arte. Sem critérios exteriores.
E então que dizer de uma obra de arte que transmita valores racistas?
Toda a arte é imoral
Oscar Wilde
Aposto que conheces muitas mulheres, disse Hilda. Nós lemos os teus livros.
Eu escrevo ficção.
O que é ficção?
Ficção é um prolongamento da vida.
Queres dizer que mentes?
Um pouco. Não muito.
Charles Bukowski, Mulheres, Colecção Mil Folhas, Público, nº41, 2003, p 214
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
Fernando Pessoa, 1928
Primeiras palavras do discurso pronunciado em 22 de Março de 1968, por ocasião da entrega do Prémio Nacional Austríaco:
Não há nada a exaltar, nada a condenar, nada a acusar, mas há muitas coisas risíveis; tudo é risível quando se pensa na morte.
Thomas Bernhard
Se têm a verdade, guardem-a!
Fernando Pessoa, 1923
A cada um a sua máscara.
O próprio Descartes confessou: Larvatus prodeo - Eu caminho mascarado.
A ideia de que a distinção Esquerda -Direita deixou de fazer sentido é obviamente perigosa.
Eduardo Prado Coelho, Tudo o que não escrevi, Vol II, Asa, 1994, p18
O tu é mais antigo do que o eu.
Nietzsche
A construção da Pessoa pressupõe uma ultrapassagem manifesta do corpo próprio espelhado no tu.
A identidade do eu emerge da consciência reflexiva que o homem tem do mundo e de si, perante o outro. Permanentemente somos um ser no mundo, com o outro, num encontro quotidiano e banal; mas criador.
E sentimos que a falta original resulta da existência primordial do outro, enquanto tu.
E deste estar com, surge o risco do desejo insatisfeito.
Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões da província.
Sou eu mesmo, que remédio!...
A. Caeiro
Adoro as coisas simples. Elas são o último refúgio de um espírito complexo.
Oscar Wilde
O austríaco Thomas Bernhard (1931-1989) foi escritor, poeta e dramaturgo. Inventou a palavra Dramoletes - comparação com a palavra omeleta, refeição rápida - para se referir às suas peças breves. Nesta designação está incluído o conjunto de sete peças curtas onde o tempo é, igualmente, conciso e parado.
O Teatro da Rainha tem em cena Dramoletes 1/ O Coveiro: o título do primeiro dramoletes é Match - retrato do deserto intimista de um casal; Mês de Maria - realce da eficácia do boato, da intriga e da relações xenófobas; Um Morto - exposição da palavra sussurrada, mas visível, sobre o que não deve ser dito - a morte da humanidade, dos seus valores. Em todas estas peças, a técnica da repetição cria densidade e conhecimento no espectador.
Através deste género, Thomas Bernhard desmascara o alemão comum e o nazismo que persistiu nas instituições e nas mentalidades, já em plena democracia.
Grandes interpretações dos actores da Rainha. A não perder.
Agustina Bessa-luís nasceu em Vila Meã, Amarante, em 15 de Outubro de 1922.
A partir de 1954, com o romance A Sibila, impõe-se na ficção portuguesa através do seu estilo enigmático e labiríntico.
Em 2004, aos 81 anos, recebe o Prémio Camões.
Hoje faz anos!
(...) O aforismo deve ser a última colheita do uso da vida, e não uma impertinência ou uma afronta. Mas acontece que um coração novo encontra na rebelião uma força que se assemelha à sabedoria e que provém do desprendimento das coisas que ele não amou ainda; enquanto que aquele que muito conheceu o mundo, uma vez liberto, encontra-se, além de desamarrado das suas paixões, menos apressado no julgamento. O sábio é o homem que amou tanto a casa em festa como a casa em luto, e o fim e o princípio de todas as coisas.
Alegria do Mundo I - 1996 / II 1998
Escrever é isto: comover para desconvocar a angústia e aligeirar o medo, que é sempre experimentado nos povos como uma infusão de laboratório, cada vez mais sofisticada. Eu penso que o escritor com maior sucesso (não de livraria, mas de indignação social profunda) é aquele que protege os homens do medo: por audácia, delírio, fantasia, piedade ou desfiguração. Mas porque a poética precisão de dum acto humano não corresponde totalmente à sua evidência. Ama-se a palavra, usa-se a escrita, despertam-se as coisas do silêncio em que foram criadas. Depois de tudo, escrever é um pouco corrigir a fortuna, que é cega, com um júbilo da Natureza, que é precavida.
Contemplação Carinhosa da Angústia
Michel Foucault diz que por detrás de toda a história dos castigos, há uma história do corpo e do poder em luta contra o corpo.
Através do corpo, lugar de dissolução do eu, as relações de poder estabelecem marcas e exigem sinais ao sujeito desejante.
Há um desfiladeiro entre o corpo biológico e o corpo social. E compreende-se: o poder pune; o castigo resgata. E o corpo aniquila-se.
O corpo não espera. Não. Por nós
ou pelo amor. Este pousar de mãos,
tão reticente e que interroga a sós
a tépida secura acetinada,
a que palpita por adivinhada
em solitários movimentos vãos;
esse pousar em que não estamos nós,
mas uma sede, uma memória, tudo
o que sabemos de tocar desnudo
o corpo que não espera; este pousar
que não conhece, nada vê, nem nada
ousa temer no seu temor agudo...
Tem tanta pressa o corpo! E já passou,
quando um de nós ou quando o amor chegou.
Jorge de Sena (1919-1978)
E há poetas que são artistas
E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas!...
Fernando Pessoa
sophia de mello breyner andresen