O vocábulo "música" designava para os gregos, não só a música propriamente dita, mas todas as belas-artes, assim como a cultura do espírito em geral.
Platão esclarece no Fédon (Prólogo), esta questão:
No curso da minha vida, tinha sido, com frequência, visitado por um sonho, hoje sob uma forma, amanhã sob outra, o qual me aconselhava constantemente a mesma coisa: Ó Sócrates, dizia ele, trata de cultivar a música e dedica-te a isso. Ora eu julgava que àquilo, que na vida passada tinha feito, me exortava e incitava o sonho. Semelhante aos que animam os corredores, assim ele, na minha opinião, me animava também a prosseguir o que tinha principiado - a dedicar-me à música, pois não existe música, pensava eu, mais excelente que a filosofia, à qual eu me dedico.
À força de falarmos de amor, apaixonamo-nos.
Pascal, físico e filósofo francês (1623-1662)
Público (P2)
Camões explora neste soneto, as recordações do dia da partida para a Índia que o separaram da sua amada.
As contraposições e as contradições do amor, próprias da poesia do século XVI, estão aqui presentes. Neste caso, surgem entre o mundo interior e o mundo exterior.
O sentido do último terceto pode ser interpretado como uma alusão ao mito de Orfeu que com o seu canto fez cessar o sofrimento das almas do Inferno.
Aquela triste e leda madrugada
Cheia toda de mágoa e de piedade,
Enquanto houver no mundo saudade
Quero que seja sempre celebrada.
Ela só, quando amena e marchetada
Saía, dando ao mundo claridade,
Viu apartar-se de uma outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.
Ela só viu as lágrimas em fio.
Que de uns e de outros olhos derivadas,
Se acrescentaram em grande e largo rio.
Ela ouviu as palavras magoadas
Que puderam tornar o fogo frio
E dar descanso às almas condenadas.
Camões, Sonetos
Sócrates (470/469-399 a. C), dialogava na praça pública, questionando os homens sobre o seus saberes. Por isso, representou uma forte ameaça ao governo ateniense, pelo qual foi julgado e condenado à morte: por adorar novos deuses e corromper a juventude da Cidade.
Alguns excertos- algo irónicos- da defesa de Sócrates, no tribunal:
Que mereço eu pagar ou sofrer, por não ter aprendido a ficar quieto na vida, descurando aquilo com que as gentes se preocupam: riqueza, propriedades, postos militares, honras públicas e outros lugares de chefia, além de grupos e facções políticas, que continuam a crescer na cidade. (...)
(...) o maior bem que pode haver para um homem é, todos os dias, discorrer sobre a excelência e sobre outros temas acerca dos quais me ouvíeis dialogar, investigando-me a mim e aos outros. (...) uma vida sem pensar não é digna de ser vivida por um homem(...).
(...) fui apanhado em dificuldades, não de palavras, decerto, mas de ousadia e desvergonha e falta de vontade de vos dizer aquelas coisas que mais vos agradaria ouvir. (...) Mas, por estar em perigo, não julguei necessário fazer algo indigno de um homem livre, nem agora me arrependo de me ter defendido assim, pois prefiro morrer com essa defesa a viver com a outra.
Platão, Apologia de Sócrates
A má-língua nada tem a ver com o espírito crítico, que se caracteriza pela capacidade de ver, analisar e avaliar, isto é, saber destrinçar para decidir segundo todos os dados recolhidos. A má-língua é derrotista e paralisante. O espírito crítico, pelo contrário, (...) levanta questões que, pondo em causa falsas evidências, abrem caminho à investigação do desconhecido.
Frei Bento Domingues, Público
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca
e
O'Neill
Há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas,
que esperam por nós
Mário Cesariny
Apesar do nervosismo dos mercados, as vindimas continuam a ser uma experiência originária que desperta os sentidos e a hora de Baco.
Sabemos que o perfume do néctar dos deuses entorpece. Em alguns, as comparações e as figuras linguísticas, traduzem a existência de picos de nevoeiro na memória.
“Eu penso que os políticos são como os vinhos. Não sabemos porquê. Há boas épocas em que o vinho é esplêndido e outras épocas em que o vinho não presta. Nesta altura nós temos políticos que não prestam.”
Mário Soares (hoje, em Coimbra)
Onde há música não pode haver coisa má.
Público (P2)
Cervantes (1547-1616)
Mesmo
uma linha
recta
é o labirinto
porque
entre
cada dois pontos
está o infinito
Adília Lopes, in Caderno, & Etc, 2007
sophia de mello breyner andresen