Segunda-feira, 20 de Dezembro de 2010

Mais do que um sonho: comoção!
Sinto-me tonto, enternecido,
quando, de noite, as minhas mãos
são o teu único vestido.

E recompões com essa veste,
que eu, sem saber, tinha tecido,
todo o pudor que desfizeste
como uma teia sem sentido;
todo o pudor que desfizeste
a meu pedido.

Mas nesse manto que desfias,
e que depois voltas a pôr,
eu reconheço os melhores dias
do nosso amor.

 

David Mourão - Ferreira



publicado por omeuinstante às 20:00 | link do post

Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas

Para ti criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

 

 

 

 




publicado por omeuinstante às 17:00 | link do post

Cada coisa, cada pessoa é um poema que se dirige ao Outro, figura desse Outro.


Paul Celan



publicado por omeuinstante às 10:00 | link do post

Domingo, 19 de Dezembro de 2010

Tu à noite havias de escutar
A trovoada e o ar ambulante.
Tu nessa margem hás-de virar
Para onde estão as intempéries dominantes.

Toda essa honrada esperança
Ruirá na ardósia,
E destroçará o inverno
Que vocifera a teus pés.

Se bem que ardam os altares apaixonantes,
E que o sol deliberado
Faça ladrar a águia,
Tu avançarás na corda bamba.

Harold Pinter, Várias Vozes



publicado por omeuinstante às 13:00 | link do post

- Nem sequer sei que não sei nada; conjecturo, porém, que nem eu nem os outros. De lábaro me servirá essa proposição, à qual se seguirá esta outra: nada se sabe.


Francisco Sanches, Que Nada se sabe, Vega, p 63



publicado por omeuinstante às 10:00 | link do post



publicado por omeuinstante às 00:34 | link do post

Sábado, 18 de Dezembro de 2010

Que música levaria para uma ilha?


A arte da fuga, de J.S.Bach, na orquestração de Scherchen;Turandot, de Puccini, com a Nilsson e o Bjorling e a Tebaldi; O Cavaleiro da Rosa, de Richard Strauss, com a Schwartzkopf, e o Karajan a dirigir; levava o Gieseking a tocar os prelúdios de Debussy; a Sétima sinfonia de Beethoven, dirigida pelo Karajan; aPrimeira Sinfonia de Brahms, dirigida por Markévitch; os discos de Ciccolini tocando a música de Erik Satie, para piano; o Fischer-Dieskau a cantar lieder de Schumann; Gerard Souzay a cantar os de Duparc (especialmente por causa de L’Invitation au Voyage); o disco do Bernstein com a suite do Pássaro de Fogo, de Stravinsky, e o Romeu e Julieta de Tchaikovsky.

 

Jorge de Sena, 1968




publicado por omeuinstante às 17:01 | link do post

Hoje, no Público (P2).

 

Existem ocasiões em que um homem tem de revelar metade do seu segredo para manter oculto o resto.

 

Philip Chesterfield, político e escritor inglês (1694-1773)




publicado por omeuinstante às 15:25 | link do post

Todo o saber é  uma defesa contra o desejo.

 

Lacan



publicado por omeuinstante às 13:00 | link do post

CÃO

Cão passageiro, cão estrito,

cão rasteiro cor de luva amarela,

apara-lápis, fraldiqueiro,

cão liquefeito, cão estafado,

cão de gravata pendente,

cão de orelhas engomadas,

de remexido rabo ausente,

cão ululante, cão coruscante,

cão magro, tétrico, maldito,

a desfazer-se num ganido,

a refazer-se num latido,

cão disparado: cão aqui,

cão além, e sempre cão.

Cão marrado, preso a um fio de cheiro,

cão a esburgar o osso

essencial do dia a dia,

cão estouvado de alegria,

cão formal da poesia,

cão-soneto de ão-ão bem martelado,

cão moído de pancada

e condoído do dono,

cão: esfera do sono,

cão de pura invenção, cão pré-fabricado,

cão-espelho, cão-cinzeiro, cão-botija,

cão de olhos que afligem,

cão-problema...


Sai depressa, ó cão, deste poema!


Alexandre O'Neill
Poesias Completas. 1951-1986
Lisboa, INCM, 1990 (3ª ed.)




publicado por omeuinstante às 12:00 | link do post

Sexta-feira, 17 de Dezembro de 2010


publicado por omeuinstante às 21:30 | link do post

Eduardo Prado Coelho fala de Marguerite Duras como a senhora da esplendorosa marginalidade. O Amante, confirma-o.

 

A pele é duma sumptuosa suavidade. O corpo. O corpo é frágil, sem força, sem músculo, poderia ter estado doente, estar em convalescência, é imberbe, sem outra virilidade que a do sexo, é muito fraco, parece à mercê de um insulto, débil.

Ela não o olha no rosto. Não o olha. Toca-o. Toca a doçura do sexo, da pele, acaricia a cor dourada, a desconhecida novidade. Ele geme, chora. Está num estado de amor abominável.

E a chorar fá-lo. Primeiro há a dor. E depois esta dor é por sua vez possuída, transformada, lentamente arrancada, levada até ao gozo, abraçada a ela. O mar, sem forma, simplesmente incomparável.

 

Marguerite Duras, O Amante, Difel, p 36



publicado por omeuinstante às 21:13 | link do post

Filme de animação de Laura Neuvonen (Finlândia).

A repetição absurda de gestos e de acções sem significado...

Mas há muito mais para ler neste pequeno filme de 2005.

 

Respigado Paulo Martins



publicado por omeuinstante às 16:12 | link do post

Qualquer acto de amizade é acompanhado de um prazer secreto.



publicado por omeuinstante às 11:46 | link do post

Quinta-feira, 16 de Dezembro de 2010


publicado por omeuinstante às 21:00 | link do post

O mundo é um conceito humano e circunscreve-se àquilo que pode ser captado pela consciência simbólica, isto é, pela linguagem.




publicado por omeuinstante às 16:44 | link do post

Quarta-feira, 15 de Dezembro de 2010


publicado por omeuinstante às 21:30 | link do post

A poesia é o extravasar espontâneo de poderosos sentimentos.


William Wordsworth



publicado por omeuinstante às 19:07 | link do post

Escuta-me, porque sou desta e daquela maneira. Sobretudo, não me confundas com o que não sou!

 

Nietzsche, Ecce Homo, Prefácio



publicado por omeuinstante às 12:10 | link do post

Cancioneiro Geral - impresso em 1516 - é uma compilação de Garcia de Resende da poesia produzida no século XIV.
Esta cantiga é, com razão, considerada uma das mais belas do Cancioneiro.


Senhora partem tam tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

Tam tristes, tam saudosos,
tam doentes da partida,
tam cansados, tam chorosos
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.


Partem tam tristes os tristes
tam fora d'esperar bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

João Roiz de Castel-Branco, Cancioneiro Geral, III, 134



publicado por omeuinstante às 10:00 | link do post

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Sem a música, a vida seria um erro. Nietzsche
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