Voo
Entre os olhos beijar-te
Fazer de tuas pálpebras
asas da minha boca
David Mourão-Ferreira, Obra Poética, Presença, p.282
Há pessoas que nos fascinam pela forma como acrescentam realidade ao mundo físico e simbólico, ao nosso mundo.
Conheci, recentemente, um trabalho sobre a obra de Miguel Torga, de Manuel Carlos Patrício Análise da Componente Geográfica na Obra de Miguel Torga. Uma espécie de topoanálise que serpenteia através de uma poética do espaço. Constrói em volta da obra torguiana uma fenomenologia do Homem e do Lugar, tendo sempre como pré-texto as recordações do passado e as suas lembranças territoriais.
Nasce, em Manuel Carlos Patrício, um filósofo-do-olhar, visível na escolha das palavras que oferece como canto de louvor ao Poeta e ao Homem que foi Miguel Torga.
Atrevo-me a dizer que o imita na tentativa de recuperação de uma natureza perdida. Com refere Alain Bosquet, no fundo em cada palavra, assisto ao meu nascimento.
Manuel Carlos Patrício cita Torga; e a si mesmo. E a natureza continua a produzir flores.
Nascemos num sítio. E ficamos pela vida fora a ver o mundo do fragão que primeiro nos serviu de mirante.
A sociedade é o lugar onde nasce a consciência. Não a cria mas ajuda-a a constituir-se. (…) Nenhum escândalo há, pois, em ver as diferentes concepções que, segundo os lugares e os tempos, os homens têm do dever. O que permanece invariável é a ideia de que há um dever; o que varia é o conteúdo do dever, mas quem é dotado de razão tem necessariamente o sentimento de uma ordem que se impõe à sua conduta.
Gabriel Madinier
A história das relações entre a arte e a matemática teve um ponto de partida mais ou menos definido, mas que nunca mais acabou.
Michel Emmer, 2007
Ontem, Nadir Afonso disse-me que a obra de arte é um espectáculo de exactidão.
Existem mais coisas no céu e sobre a terra, Horácio, que a sua filosofia possa imaginar.
Shakespeare
(Obrigada, Post)
Sucede aos homens como às substâncias materiais, as mais leves e menos densas ocupam sempre os lugares superiores.
Mariano José Pereira da Fonseca - Marquês de Maricá (político brasileiro)
A vitória tem mil pais, mas a derrota é orfã.
John Kennedy (1917-1969)
À medida que nos embrenhamos na literatura afastamo-nos do pólo do discurso e aproximamo-nos da fala pura (...).
A literatura é pura fala sem informação; comunica sem comunicar coisa alguma.
Nathalie Sarraute
Há duas maneiras de espalhar a luz: ser a vela, ou o espelho que a reflecte.
Edith Wharton
Quando acertamos, ninguém se lembra. Quando erramos, ninguém se esquece.
(Duomo de Florença)
Neste mundo de injustiça globalizada, sabe bem recordar as últimas palavras do texto lido por Saramago na cerimónia de encerramento do Fórum Social Mundial 2002. Saramago conta-nos a história do camponês de Florença que no século XVI tocou, melancolicamente, o sino da igreja pela justiça, porque, dizia ele, a Justiça está morta.
Não tenho mais que dizer. Ou sim, apenas uma palavra para pedir um instante de silêncio. O camponês de Florença acaba de subir uma vez mais à torre da igreja, o sino vai tocar. Ouçamo-lo, por favor.
Os problemas da poesia colocam questões aos mais desprotegidos sítios da existência de um homem.
Gonçalo M. Tavares
Moro entre o dia e o sonho.
Onde cochilam crianças, quentes da correria.
Onde velhos para a noite sentam
e lareiras iluminam e aquecem o lugar.
Moro entre o dia e o sonho.
Onde tocam claros sinos vesperais
e meninas, perdidas da confusão,
descansam à boca do poço.
E uma tília é minha árvore querida;
e todos os verões que nela se calam
movem outra vez os mil galhos,
e acordam de novo entre o dia e o sonho.
Rainer Maria Rilke
Sócrates (469-399 a. C) defendia :
Bem pensar para bem viver
sophia de mello breyner andresen