Quinta-feira, 31 de Março de 2011

A ler a Carta sobre a Tolerância, de John Locke ( 1632-1704). Um texto marcante no pensamento filosófico e político da cultura ocidental. De forma clara e lúcida são apresentados princípios racionais e políticos sobre a natureza e os limites da Igreja e do Estado.

Um pretexto para cruzar leituras, com destaque para o brilhante texto de Amos Oz, Contra o Fanatismo.

 

Nem o direito, nem a arte de governar se fazem necessariamente acompanhar de um certo conhecimento de outras matérias; acima de tudo, não do conhecimento da religião.

 

Locke

 



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Quarta-feira, 30 de Março de 2011

Na ilha por vezes habitada

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.

José Saramago



publicado por omeuinstante às 12:44 | link do post

Terça-feira, 29 de Março de 2011


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Os teus olhos

exigindo

ser bebidos

Os teus ombros

reclamando

nenhum manto...

 

David Mourão-Ferreira



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Segunda-feira, 28 de Março de 2011


publicado por omeuinstante às 22:42 | link do post

Soseki, escritor japonês ( 1867-1916), autor de Eu sou um Gato, diz:

 

 

Desfiz-me dessa coisa insignificante

a que chamam "EU"

E tornei-me num mundo imenso.

 

Uma sabedoria simples e evidente.



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Domingo, 27 de Março de 2011

Olharei a tua sombra  se não quiseres que te olhe a ti, diz Maria Madalena, e Jesus Cristo responde: quero estar onde a minha sombra estiver, se lá é que estiverem os teus olhos.

 

Pública, 27.03.11, p. 26



publicado por omeuinstante às 14:37 | link do post



publicado por omeuinstante às 12:44 | link do post

Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir. 
Sentir tudo de todas as maneiras. 
Sentir tudo excessivamente, 
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas 
E toda a realidade é um excesso, uma violência, 
Uma alucinação extraordinariamente nítida 
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas, 
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas 
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.

 

Fernando Pessoa



publicado por omeuinstante às 10:22 | link do post

Sábado, 26 de Março de 2011


publicado por omeuinstante às 21:59 | link do post

 

‎Se pudesse ouvir o olhar



Eugène Delacroix ( ( 1798-1863 )        



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Sexta-feira, 25 de Março de 2011

Fim da Avaliação do Desempenho Docente (ADD). Vitória da Razão. 

Lembrei-me de Galileu!

 

 

Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,

aquele teu retrato que toda a gente conhece,

em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce

sobre um modesto cabeção de pano.

Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.

(Não, não, Galileo! Eu não disse Santo Ofício.

Disse Galeria dos Ofícios.)

Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.

 

 

Lembras-te? A Ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria…

Eu sei… eu sei…

As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.

Ai que saudade, Galileo Galilei!

 

 

Olha. Sabes? Lá em Florença

está guardado um dedo da tua mão direita num relicário.

Palavra de honra que está!

As voltas que o mundo dá!

Se calhar até há gente que pensa

que entraste no calendário.

 

 

Eu queria agradecer-te, Galileo,

a inteligência das coisas que me deste.

Eu,

e quantos milhões de homens como eu

a quem tu esclareceste,

ia jurar- que disparate, Galileo!

- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça

sem a menor hesitação-

que os corpos caem tanto mais depressa

quanto mais pesados são.

 

 

Pois não é evidente, Galileo?

Quem acredita que um penedo caia

com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia?

Esta era a inteligência que Deus nos deu.

 

 

Estava agora a lembrar-me, Galileo,

daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo

e tinhas à tua frente

um friso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo

a olharem-te severamente.

Estavam todos a ralhar contigo,

que parecia impossível que um homem da tua idade

e da tua condição,

se tivesse tornado num perigo

para a Humanidade

e para a Civilização.

Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscavas os lábios,

e percorrias, cheio de piedade,

os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.

 

 

Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas,

desceram lá das suas alturas

e poisaram, como aves aturdidas- parece-me que estou a vê-las -,

nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.

E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual

conforme suas eminências desejavam,

e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal

e que os astros bailavam e entoavam

à meia-noite louvores à harmonia universal.

E juraste que nunca mais repetirias

nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma,

aquelas abomináveis heresias

que ensinavas e descrevias

para eterna perdição da tua alma.

Ai Galileo!

Mal sabem os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo

que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,

andavam a correr e a rolar pelos espaços

à razão de trinta quilómetros por segundo.

Tu é que sabias, Galileo Galilei.

 

 

Por isso eram teus olhos misericordiosos,

por isso era teu coração cheio de piedade,

piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos

a quem Deus dispensou de buscar a verdade.

Por isso estoicamente, mansamente,

resististe a todas as torturas,

a todas as angústias, a todos os contratempos,

enquanto eles, do alto incessível das suas alturas,

foram caindo,

caindo,

caindo,

caindo,

caindo sempre,

e sempre,

ininterruptamente,

na razão directa do quadrado dos tempo

 

António Gedeão



publicado por omeuinstante às 11:29 | link do post

Por muito tempo achei que a ausência é falta. 
E lastimava, ignorante, a falta. 
Hoje não a lastimo. 
Não há falta na ausência. 
A ausência é um estar em mim. 
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, 
que rio e danço e invento exclamações alegres, 
porque a ausência, essa ausência assimilada, 
ninguém a rouba mais de mim.

 

Carlos Drummond de Andrade



publicado por omeuinstante às 11:24 | link do post

Terça-feira, 22 de Março de 2011

Por detrás da alegria e do riso, pode haver uma natureza vulgar, dura e insensível. Mas, por detrás do sofrimento, há sempre sofrimento. Ao contrário do prazer, a dor não tem máscara.

 

Oscar Wilde



publicado por omeuinstante às 15:00 | link do post

Depois do Inverno, morte figurada, 
A primavera, uma assunção de flores. 
A vida 
Renascida 
E celebrada 
Num festival de pétalas e cores. 

Miguel Torga



publicado por omeuinstante às 12:39 | link do post

Segunda-feira, 21 de Março de 2011

Inscrição sobre as Ondas

 

Mal fora iniciada a secreta viagem,

um deus me segredou que eu não iria só.

 

Por isso a cada vulto os sentidos reagem,

supondo ser a luz que o deus me segredou.

 

David  Mourão-Ferreira, Obra Poética, Presença, p. 27



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Domingo, 20 de Março de 2011


publicado por omeuinstante às 20:33 | link do post

Peço-te que venhas e me dês
Um pouco de ti mesmo onde eu habite

Sophia de Mello Breyner Andresen



publicado por omeuinstante às 11:56 | link do post

Sábado, 19 de Março de 2011

O homem moral não pára de ambicionar sempre uma perfeição maior. O lutar por um grau de virtude cada vez maior é da essência da atitude moral.(…).

É esta aspiração constante por mais e melhor, que se renova com cada progresso moral, que constitui a lei fundamental da atitude ética.

 

 

J. Hessen, Filosofia dos Valores, Studium, p. 295

 

 

 

 

 



publicado por omeuinstante às 15:31 | link do post

O Homem realiza o seu ser através das relações interpessoais. Apenas.

 

 



publicado por omeuinstante às 15:06 | link do post

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Sem a música, a vida seria um erro. Nietzsche
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