Qui amant ipsi sibi somnia fingunt.
Quem ama sonha de olhos abertos o que pensa.
( obrigada, Cláudia)
Publílio (Publilius Syrus) - século I a.C.
A liberdade é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade do dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espírito, todas da alma: és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre. E não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo, mas do Destino para si somente. Ai de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria, te força a seres escravo. Ai de ti, se, tendo nascido liberto, capaz de te bastares e de te separares, a penúria te força a conviveres. Essa, sim, é a tua tragédia, e a que trazes contigo. Nascer liberto é a maior grandeza do homem, o que faz o ermitão humilde superior aos reis, e aos deuses mesmo, que se bastam pela força, mas não pelo desprezo dela.
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego
O tumulto interior de Hamlet é o tumulto do cidadão comum hoje. Todo o Príncipe -cada um de nós- encerra em si mesmo a crueza e a grandeza da sua época, e o abismo do Reino da Dinamarca é o abismo da Velha Europa. Reinos inquietos, como o Tempo. Como a leitura.
Ípsilon, sexta-feira, 11 de Maio de 2012.
Casa
Permanece presente como um reino
E atravessa meus sonhos como um rio
Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra poética, III, Caminho, p. 53
The River Bennecourt, Monet
Observe atentamente o caminho que seu coração aponta e escolha esse caminho com todas as forças.
Provérbio hassídico
Quantas madrugadas tem a noite?
Obrigada, Ana Filomena
Aquele que aprende mas não pensa está perdido.
Aquele que pensa mas não aprende está em grande risco.
Confúcio
(...) quando se perde a humanidade, não vale a pena ser filósofo.
Agostinho da Silva, Textos e Ensaios Filosóficos I
O dia levantou-se por entre uma chuva suave.
De um poema Apache
Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.
Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!
Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...
Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.
David Mourão-Ferreira
O absurdo é a razão lúcida que constata os seus limites.
Camus
O que é um fanático?
Escutemos as palavras de Amos Oz.
Lembro-me hoje de uma velha história, em que um dos personagens, obviamente em Jerusalém - onde mais seria? - está sentado num pequeno café e há uma pessoa idosa a seu lado. Eles iniciam uma conversa e ele chega à conclusão de que quem está sentado do outro lado da mesa é Deus. E ele tem uma pergunta para fazer a Deus, uma pergunta muito urgente, é claro. Diz: Caro Deus, por favor, diga-me, de uma vez por todas, quem tem a fé certa? Os católicos romanos, os protestantes, ou talvez os judeus, ou serão os muçulmanos? Quem tem a fé correcta? E Deus responde, nesta história: Para lhe dizer a verdade, meu filho, não sou religioso, nunca fui, nem sequer interessado em religião.
Amos Oz, Contra o fanatismo
Mas o que quer dizer este poema? - perguntou-me alarmada a boa senhora.
E o que quer dizer uma nuvem? - respondi triunfante.
Uma nuvem - disse ela - umas vezes quer dizer chuva, outras vezes bom tempo...
Mário Quintana
Nada é real nas nossas vidas senão o acaso:
o resto é apenas consequência dele.
Paul Auster
Tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Fernando Pessoa
O Homem que Anda, de Giacometti, representa a arte como forma de estilização do real. Mas é essencialmente um grande símbolo da evolução da humanidade; e de humanidade. Uma linguagem que exprime a apropriação e a comunicação do sentido da vida.
A incerteza cai com a tarde
no limite da praia.
Nuno Júdice
sophia de mello breyner andresen