O livro de Maria Filomena Molder, O Químico e o Alquimista – Benjamin, Leitor de Baudelaire, abre a porta ao universo de Walter Benjamin.
O alquimista - o crítico- é aquele que procura compreender intimamente a verdade da obra, enquanto que o químico é o comentador, uma "espécie de analista, decompõe um texto, no qual o crítico tenta reconhecer a vida", como a própria torna claro.
A primeira parte do livro prepara o leitor para a a compreensão da segunda, onde nos confrontamos com a leitura crítica benjaminiana de Baudelaire.
A capa do livro apresenta um pormenor de um quadro do pintor belga James Ensor (1860-1949), um belo fogo de artifício que nos remete para a persistente metáfora do fogo.
Um livro para ser lido sem pressa.
É tão fundo o silêncio entre as estrelas.
Nem o som da palavra se propaga,
nem o canto das aves milagrosas.
Mas, lá, entre as estrelas, onde somos
um astro recriado, é que se ouve
o íntimo rubor que abre as rosas.
José Saramago
Michel Foucault (1928-1984) um dos grandes pensadores da contemporaneidade, analisa nas suas obras conceitos como os de loucura, poder e sexualidade, sempre com um olhar crítico e num jogo entre a razão e a desrazão. Uma investigação arqueológica que coloca a verdade- esgotamento- no tempo, uma vez que esta só pode ser compreendida no devir.
O grande jogo da história será de quem se apoderar das regras, de quem tomar o lugar daqueles que as utilizam, de quem se disfarçar para pervertê-las, utilizá-las ao inverso e voltá-las contra aqueles que as tinham imposto.
Michel Foucault, A História da Loucura na Idade Clássica
A Música
A música p'ra mim tem seduções de oceano!
Quantas vezes procuro navegar,
Sobre um dorso brumoso, a vela a todo o pano,
Minha pálida estrela a demandar!
O peito saliente, os pulmões distendidos
Como o rijo velame d'um navio,
Intento desvendar os reinos escondidos
Sob o manto da noite escuro e frio;
Sinto vibrar em mim todas as comoções
D'um navio que sulca o vasto mar;
Chuvas temporais, ciclones, convulsões
Conseguem a minh'alma acalentar.
— Mas quando reina a paz, quando a bonança impera,
Que desespero horrível me exaspera!
Charles Baudelaire, As Flores do Mal
Despe-te
Não há outro caminho.
Eugénio de Andrade
O Homem moderno vive mergulhado na linguagem. Vive o presente em discurso e nele ganha existência. Não admira que a ciência dos signos seja um vasto campo de conhecimento, um objecto a pensar na sua essência.
Mas, dias há, tenho saudades do labirinto do pensamento mudo. Da fala viva, individual, que Saussure define como acto individual de vontade e inteligência.
Ramificações movediças da hora do dia.
Fossem meus os tecidos bordados dos céus,
Ornamentados com luz dourada e prateada,
Os azuis e negros e pálidos tecidos
Da noite, da luz e da meia-luz,
Os estenderia sob os teus pés.
Mas eu, sendo pobre, tenho apenas os meus sonhos.
Eu estendi meus sonhos sob os teus pés
Caminha suavemente, pois caminhas sobre meus sonhos.
William Butler Yeats
A única verdade é que vivo.
Sinceramente, eu vivo.
Quem sou?
Bem, isso já é demais....
Clarice Lispector
Berthe Morisot (1841-1895) é uma figura importante do movimento impressionista francês, como podemos inferir das palavras de Pissaro: mulher de extraordinário talento, que honrou o nosso grupo impressionista.
Mulher ao espelho
A Manhã é de todos-
A Noite - a alguns dada -
Para os poucos do império -
A Luz da Madrugada.
Emily Dickinson
Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me me crer
O que nunca poderei ser.
Ricardo Reis
Desenhar é a integridade da arte. Não há possibilidade de trapacear. Ou é bom ou é ruim.
Salvador Dali
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.
Manuel Bandeira
Conheço o sal da tua pele seca
depois que o estio se volveu inverno
da carne repousando em suor nocturno.
(...)
Jorge de Sena
sophia de mello breyner andresen
silêncio que fala,
tempestades sem vento, mar sem ondas,
pássaros presos, douradas feras adormecidas,
topázios ímpios como a verdade,
outono numa clareira de bosque onde a luz canta no ombro
duma árvore e são pássaros todas as folhas,
praia que a manhã encontra constelada de olhos,
cesta de frutos de fogo,
mentira que alimenta,
espelhos deste mundo, portas do além,
pulsação tranquila do mar ao meio-dia,
universo que estremece,
paisagem solitária.
Octavio Paz