Sexta-feira, 30 de Setembro de 2011

Não aprendi a colher a flor
sem esfacelar as pétalas.
Falta-me o dedo menino
de quem costura desfiladeiros.

Criança, eu sabia
suspender o tempo,
soterrar abismos
e nomear as estrelas.
Cresci,
perdi pontes,
esqueci sortilégios.

Careço da habilidade da onda,
hei-de aprender a carícia da brisa.

Trémula, a haste
me pede
o adiar da noite.

Em véspera da dádiva,
a faca me recorda, no gume do beijo,
a aresta do adeus.

Não, não aprenderei
nunca a decepar flores.

Quem sabe, um dia,
eu, em mim, colha um jardim?

Mia Couto



publicado por omeuinstante às 10:00 | link do post

Quinta-feira, 29 de Setembro de 2011


publicado por omeuinstante às 20:24 | link do post

Amor é mais do que dizer. 
Por amor no teu corpo fui além 
e vi florir a rosa em todo o ser 
fui anjo e bicho e todos e ninguém. 

Como Bernard de Ventadour amei 
uma princesa ausente em Tripoli 
amada minha onde fui escravo e rei 
e vi que o longe estava todo em ti. 

Beatriz e Laura e todas e só tu 
rainha e puta no teu corpo nu 
o mar de Itália a Líbia o belvedere. 

E quanto mais te perco mais te encontro 
morrendo e renascendo e sempre pronto 
para em ti me encontrar e me perder. 

Manuel Alegre, Obra Poética



publicado por omeuinstante às 10:17 | link do post

Quarta-feira, 28 de Setembro de 2011


publicado por omeuinstante às 20:30 | link do post

No espaço de poucos minutos, éramos obrigados a bater em retirada e a abandonar a bacia de areia onde rolavam torvelinhos de espuma. O dançarino acompanhou-nos, e viemos a descobrir assim que não era nem louco nem mudo. (...) Estudara simultaneamente dança e escultura em Santiago, depois expatriara-se para os antípodas. O problema do tempo obcecava-o. A dança, arte do instante, efémera por natureza, não deixa vestígios e sofre de não poder enraizar-se em qualquer continuidade. A escultura, arte da eternidade, desafia o tempo e procura materiais indestrutíveis. Mas, com isso, é a morte que acaba por descobrir, porque o mármore possui uma evidente vocação funerária. Nas costas da Mancha e do Atlântico, Lagos (o dançarino) descobrira o fenómeno das marés governado pelas leis astronómicas. Ora a maré ritma os jogos do dançarino de praia, e ao mesmo tempo convida-o à prática de uma escultura efémera.

- As minhas esculturas de areia vivem, afirmava ele, e a prova é que morrem. É o contrário da estatuária dos cemitérios, eterna por não ter vida.

 

Michel Tournier, Uma Ceia de Amor

(Obrigada, Olga)



publicado por omeuinstante às 18:09 | link do post

‎Os dias talvez sejam iguais para um relógio, mas não para um homem.

 

Marcel Proust



publicado por omeuinstante às 10:14 | link do post

Terça-feira, 27 de Setembro de 2011


publicado por omeuinstante às 18:13 | link do post

Ver-te é como ter à minha frente todo o tempo

Ruy Belo 



publicado por omeuinstante às 10:00 | link do post

Segunda-feira, 26 de Setembro de 2011



publicado por omeuinstante às 20:45 | link do post

Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém – mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar.
Para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.

Eugénio de Andrade



publicado por omeuinstante às 12:00 | link do post

Domingo, 25 de Setembro de 2011

Eternamente, somos Édipo.

 



publicado por omeuinstante às 20:00 | link do post

Sexta-feira, 23 de Setembro de 2011

 

Quando as palavras se tornam pouco claras, foco com fotografias. 

Quando as imagens se tornam inadequadas, contento-me com o silêncio.

 

Ansel Adams ( 1902-1984), fotógrafo americano. 

 




publicado por omeuinstante às 14:42 | link do post

Quinta-feira, 22 de Setembro de 2011



publicado por omeuinstante às 21:00 | link do post

Montaigne, fidalgo pensador do século XVI, oferece-nos no seu jeito irónico a seguinte passagem: 

Quando os Godos saquearam a Grécia, o que salvou as bibliotecas de serem incendiadas foi ter um deles espalhado a ideia de que era preciso deixar intacto aos inimigos o motivo que os afastava dos exercícios militares e os distraía com ocupações sedentárias e ociosas. 

 Montaigne, Três Ensaios, Passagens, p.29



publicado por omeuinstante às 17:54 | link do post

 Proposta de um modelo educativo. Sintomas de vida.


Curva-te apenas para amar.

 

 René Char



publicado por omeuinstante às 10:11 | link do post

Quarta-feira, 21 de Setembro de 2011

Marcus Tullius Cícero (106 a.C-43 a.C) foi escritor, filósofo e orador romano. Deixou profunda matéria sobre Retórica, aproxima-a da Filosofia e, pela sua revalorização, contraria a tradição filosófica grega.
No Orador, Cícero define as três tarefas do orador: quid dicat, quid-que loco, quo modo- que dizer, com que ordem, de que forma.

Este homo nouus- acusação grave na época- explica de forma clara que todas as partes concorrem para a obtenção da vitória da acção de falar em público.
Assim definida, a Retórica é uma arte da oratória que submete as regras da linguagem à expressividade do corpo e à teatrealidade da palavra.
Com Cícero percebemos que qualquer discurso é para além de escutado, observado. Com Cícero, o corpo fala.

Assim como o rosto é a imagem da alma, assim os olhos são os intérpretes. 
Cícero, Orador 



publicado por omeuinstante às 19:30 | link do post

Júlio Resende (1917-2011). Um homem universal. Pintor.
Fica a obra. 

 

 Ribeira Negra (1984, Porto) 

 

 Voo das Aves (1995/96)



publicado por omeuinstante às 19:20 | link do post

Terça-feira, 20 de Setembro de 2011

 A verdade é insatisfeita, destrói-se ininterruptamente para dar lugar a outra verdade, tal os mitos, que duram só até outros nascerem.

 

Fernando Namora



publicado por omeuinstante às 22:19 | link do post

... assim é a voz do poeta: um fio de silêncio costurando o tempo.

 

Mia Couto



publicado por omeuinstante às 13:30 | link do post

Segunda-feira, 19 de Setembro de 2011



publicado por omeuinstante às 20:45 | link do post

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Sem a música, a vida seria um erro. Nietzsche
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