Terça-feira, 27 de Dezembro de 2011

O mar, em Torga. No Diário IV.


...um verso azul feito de espuma,
E de fúria e de bruma,... 



publicado por omeuinstante às 10:00 | link do post

Segunda-feira, 26 de Dezembro de 2011


publicado por omeuinstante às 22:43 | link do post

Do bico de uma chaleira bojuda um pouco cansada escapava-se um leve vapor. Dessa estranha locomotiva imóvel exalavam-se assobiando todos os perfumes do mundo, das montanhas vermelhas da China às montanhas azuis da Índia, das veredas afegãs às pistas do deserto, dos poços africanos às margens egípcias. De repente compreendi que a chaleira tinha percorrido uma viagem muito longa. Tinha seguido as caravanas para se meter na poeira dos caminhos traçados pelos nómadas. Era ao mesmo tempo dragão e diligência, locomotiva e caixa de Pandora.

Teria eu medo de lhe levantar a tampa para nela encontrar algum segredo que não me era destinado?


Gilles Brochard, Pequeno Tratado Do Chá
(Obrigada, José)



publicado por omeuinstante às 21:37 | link do post

Sábado, 24 de Dezembro de 2011

Há em mim um sossego de infância e de província.



publicado por omeuinstante às 10:00 | link do post

Sexta-feira, 23 de Dezembro de 2011

 

Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.

E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da nação.

Mas, por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.

Miguel Torga 

 



publicado por omeuinstante às 23:57 | link do post

Quinta-feira, 22 de Dezembro de 2011

Somos quem se apresse.
Do tempo a passada
tornai-a por nada
no que permanece.

Tudo o que acelera
foi depressa e vão,
no que fica espera
nossa iniciação.

Ao tentardes voo,
juvenil ardor
não gasteis em vão.

Tudo repousou:
o livro e a flor,
luz e escuridão.

R. M. Rilke, Os Sonetos a Orfeu, Quetzal,p.30



publicado por omeuinstante às 15:00 | link do post

Por entre o frio  das estrelas fixas,
Procuro entender a natureza das andorinhas.

Em segredo cúmplice com os sentidos.



publicado por omeuinstante às 14:04 | link do post

Uma vez perguntaram ao Hemingway se ele acreditava em Deus.

-  Às vezes, à noite.



publicado por omeuinstante às 10:00 | link do post

Quarta-feira, 21 de Dezembro de 2011

Provérbio húngaro: Na cova do lobo não há ateus.



publicado por omeuinstante às 22:22 | link do post

Segunda-feira, 19 de Dezembro de 2011

Todo o ser humano é um estranho ímpar.

 

Carlos Drummond de Andrade

 

 

 



publicado por omeuinstante às 10:25 | link do post

Domingo, 18 de Dezembro de 2011

 

Cada dia é mais evidente que partimos

 

Sem nenhum possível regresso no que fomos,

 

Cada dia as horas se despem mais do alimento:

 

Não há saudades nem terror que baste.

  

Sophia de Mello Breyner Andresen




publicado por omeuinstante às 10:06 | link do post

Sábado, 17 de Dezembro de 2011

Eu contarei a beleza das estátuas -

Seus gestos imóveis ordenados e frios -

E falarei do rosto dos navios

 

Sem que ninguém desvende outros segredos

Que nos meus braços correm como rios

E enchem de sangue a ponta dos meus dedos.

 

Sophia de Mello Breyner Andresen, No tempo divivido (1954)




publicado por omeuinstante às 10:00 | link do post

Sexta-feira, 16 de Dezembro de 2011


publicado por omeuinstante às 20:12 | link do post

A Montanha Mágica, obra publicada em 1924, é uma narrativa extensa atravessada pelo Tempo e sempre de olhos postos na cultura europeia. A partir das altas montanhas, o Tempo é a figura central desta obra envolvente sobre o ser-se homem na sua totalidade; e a morte como aprendizagem definitiva.

Diz Thomas Mann:

 

...para a vida há dois caminhos: um é o usual, directo e ajuizado. O outro é mau, ele passa pela morte e este é o caminho genial.

 



publicado por omeuinstante às 13:50 | link do post

Quarta-feira, 14 de Dezembro de 2011

Porque o bosque é tranquilo,

(como se tivesse sido organizado por 

um poeta chinês antigo.) Ramos castanhos

recebem o vento incolor com a alegria

da tela que recebe as mais intensas tintas.

Vento tão lento que parece um provérbio natural. Os instantes existem, 

mas parecem recuperáveis. Nem o tempo se perde, ali,

onde nenhum ruído da cidade entra.

 

Gonçalo M. Tavares, Uma Viagem à Índia, Caminho, p.386



publicado por omeuinstante às 18:01 | link do post

A procura de significado para a existência humana é uma constante na história dos homens. Na contemporaneidade, os trilhos percorridos têm oscilado entre a alienação e a coisificação materialista e as perspectivas de espiritualidade duvidosa. Os alicerces da casa do Ser no nosso presente, são areias movediças. 
Dentro deste contexto, a leitura da obra O Sentido Na Vida da filósofa estaduniense Susan Wolf contribui para a clarificação de questões intemporais.

Neste texto compreendemos que a resposta à questão O que é uma vida com sentido? deve ser procurada nos meandros de cada singularidade concreta, nas complexas relações da experiência quotidiana. É no campo da acção e das escolhas pessoais que o conceito de Felicidade se actualiza.

Um livro de leitura fácil; um debate filosófico em registo de papel.

 

Uma vida com sentido é uma vida activamente empenhada em valores objectivos. Mas estes valores são-nos familiares: são os valores estéticos, éticos e cognitivos. Uma forma de não compreender o problema do sentido da vida é pensar que tudo depende da existência de um valor especial — diferente de todos os valores estéticos, éticos e cognitivos que nos são familiares. 

 





publicado por omeuinstante às 16:00 | link do post

Terça-feira, 13 de Dezembro de 2011


publicado por omeuinstante às 19:33 | link do post

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe
de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos
nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos



publicado por omeuinstante às 17:16 | link do post

As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas,
e capas (isto é copas) e capítulos
de flores e letras de oiro nas lombadas.

E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas,
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.

As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: «Floresta das zonas temperadas».

É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras.

 

Jorge Sousa Braga, Herbário, Assírio & Alvim, 1999



publicado por omeuinstante às 14:12 | link do post

Segunda-feira, 12 de Dezembro de 2011


publicado por omeuinstante às 20:17 | link do post

443245.jpeg
Sem a música, a vida seria um erro. Nietzsche
links
posts recentes

Noctua/Erik Satie

Maria Velho da Costa (193...

Procida

A Sociedade do Cansaço

Ficções do interlúdio

As Noites Afluentes

A Árvore Dos Tamancos

Futuros Distópicos

Fragmento do Homem

No espaço vazio do tempo ...

Junho 2020
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6

7
8
9
10
11
12
13

14
15
16
17
18
19
20

21
22
23
24
25
26

28
29
30


tags

arte

cinema

david mourão-ferreira

educação

estética

eugénio de andrade

fernando pessoa

filosofia

fragmentos

leituras

literatura

livros

miguel torga

música

noctua

pintura

poesia

política

quotidiano

sophia de mello breyner andresen

todas as tags

arquivos

Junho 2020

Maio 2020

Junho 2019

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Janeiro 2018

Outubro 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

blogs SAPO