ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer.
Natália Correia
O que humanamente designamos por mal é universal e absoluto; o bem existe de um modo provisório e temporário. O mal é ontologicamente primário, o bem secundário, ôntico. Sobre estas questões nos fala Miguel Real em Nova Teoria do Mal. Ainda a ler.
O inconsciente é um rio de areias profundas onde o conhecimento não entra.
Eu, Ariadne,
caminho no que teço,
no que vomito
da naúsea de fiar
os novelos exactos.
Myriam Fraga, Labirinto
Segundo a mitologia grega, é filha de Minos, rei de Creta. Apaixonada por Teseu, ajuda-o a descobrir o caminho no labirinto em que se encontrava o Minotauro, oferecendo-lhe um novelo de fio que ele desenrolou, conseguindo regressar.
Ariadne em Náxos- pintura de John William Waterhouse (escola inglesa do século XIX)
Na Antiguidade clássica, os primeiros mestres, itinerantes, foram vistos de forma misteriosa e escutados em silêncio sabedor. Hoje, os silêncios são de outra natureza.
Encimei o post com um título respigado no blogue De Rerum Natura.
Um homem que tem como "loucura" a "leveza", oferece, em palavras, a âncora da amizade. Há mais de vinte anos, encontramo-nos na borda do cais, pedra que nos fixa ao topo, e, em cada partida, renovamos o tempo da esperança.
Falo do Nuno, e vejo-o, através do seu belo "Auto-retrato".
Sou,
mas a minha paixão é aquilo
que não sou
se pelo ser rastejo sinuoso no pó
dorso horizontal de réptil
pelo não ser o meu corpo de águia
anseia pela carícia das estrelas
e as neves sempre renovadas
de inauditos himalaias
se o peso é o meu destino
a leveza é a minha loucura
a minha doença são os cais
se fico gostaria de não ficar
ir nos comboios que partem e nos
outros que faço partir
que itinerário o do meu sonho?
viagem a uma geografia interior e arenosa
ao espaço exacto entre o cais e a partida
que os dedos azuis do sonho esboçam e anulam
quem sou eu?
que labirinto percorre o meu desejo?
hei-de perguntar ao vento.
Nuno Pinto
Não me prendo a nada que me defina. Sou companhia, mas posso ser solidão; tranquilidade e inconstância; pedra e coração. Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo, preguiça e sono. Música alta e silêncio. Serei o que você quiser, mas só quando eu quiser. Não me limito, não sou cruel comigo! Serei sempre apego pelo que vale a pena e desapego pelo que não quer valer...
Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato. Ou toca, ou não toca.
Clarice Lispector
Não tenho deuses. Vivo
Desamparado.
Sonhei deuses outrora,
Mas acordei.
Agora
Os acúleos são versos,
E tacteiam apenas
A ilusão de um suporte.
Mas a inércia da morte,
O descanso da vide na ramada
A contar primaveras uma a uma,
Também me não diz nada.
A paz possível é não ter nenhuma.
Miguel Torga, in Penas do Purgatório
Voltamos sempre ao princípio. Daí partem as grandes viagens e arquitectamos, entre o arvoredo e as raízes, a solidez do nada. Impressões de um domingo, em passo lento.
A chuva deste sábado tem cheiro a primavera.
E de súbito desaba o silêncio.
É um silêncio sem ti,
sem álamos,
sem luas.
Só nas minhas mãos
ouço a música das tuas.
Eugénio de Andrade
Não é suficiente ter o espírito bom, o principal é aplicá-lo bem, escreve Descartes no seu famoso Discurso do Método. E aplicá-lo com simplicidade, sinal de verdadeiro.
sophia de mello breyner andresen