De momento viva apenas as suas interrogações. Talvez que, simplesmente vivendo-as, acabe um dia por penetrar insensivelmente nas respostas.
Rainer Maria Rilke, Cartas a um jovem poeta, Contexto, pág. 41
Tão cedo passa tudo quanto passa!
Ricardo Reis, Odes
Combinação de sensações:
A flor
bem de amor
é o lírio;
tem mel no aroma, - dor
na cor
o lírio.
Almeida Garrett
- De modo que isto está cada vez pior.
- Medonho! É de um reles, postiço! Sobretudo postiço! Já não há nada genuíno neste miserável país, nem mesmo o pão que comemos!
Eça de Queiroz, Os Maias
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego,
dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz,
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
deixa passar a Vida!
Natália Correia, in O Sol nas Noites e o Luar nos Dias
Este dia, como qualquer outro, é do homem e da mulher. Apesar disso, visto a minha identidade com a pele da Nina. Coisas de mulheres!
É no teatro do imaginário que se dá o encontro do eu consigo mesmo. A este instante chamo Tempo.
Sobre o paradoxo do elemento religioso no mundo contemporâneo:
(...) O homem a-religioso no estado puro é um fenómeno muito raro, mesmo na mais dessacralizada das sociedades modernas. A maioria dos "sem-religião" ainda se comporta religiosamente, se bem que não esteja consciente deste facto.
Mircea Eliade, O Sagrado e o Profano
A erva é sempre mais verde do outro lado do monte.
A Cláudia S. Tomazi oferece-nos esta belíssima resposta poética a propósito do post Negro, publicado hoje. Intertextualidades que nos consolam.
Ah, como é linda
então a sinta
é a arte branca
a da esperança
Ah, como é colorida
e destemida
a arte-íris
veja, como renova
inventa e amplia
toda arte, cria!
Só hoje vi o filme Mãe e Filho, do realizador russo Alexander Sokurov. É um filme imenso, tecido sobre o último dia de vida de uma mãe que recebe o carinho comovente e infinito do seu filho adulto.
As personagens principais? O Amor, os elementos e os sons da natureza, uma borboleta..., a fragilidade da força da existência humana.
Senti, profundamente, o entrelaçamento dos corpos presentes, como que querendo ser um só, no nascer e no morrer, numa espécie de eterno retorno sobre o amor cósmico.
O realizador fecha a narrativa com a morte da mãe e com o sentido profundo do desamparo essencial do filho; e com a consciência de ambos sobre a separação fundante e radical dos ser humano enquanto existente.
Um filme tristemente belo e verdadeiro sobre os caminhos da solidão da alma humana, apesar do amor. Uma experiência que nos ensina que no amor não há pressa, nem propósito.
Se, como entenderam os gregos, a função real da arte é exprimir sentimentos e transmitir compreensão, então estamos na presença da obra de arte.
Dorme um pouco, mãe, diz o filho. Eu volto já.
A realidade é concebida ao mesmo tempo que o olhar.
Goethe
Nos nossos dias, arte
radical significa arte sombria,
negra como a cor fundamental
Theodor W. Adorno
sophia de mello breyner andresen