Van Gogh inventou o amarelo quando queria pintar e já não havia sol.
Jean-Luc Godard
Campo de trigo e ceifeiro - Van Gogh
É incomensurável a infelicidade profunda que se esconde por detrás da aparência confortante do homem moderno. Hoje o mundo é povoado por seres impotentes, paralisados na necessidade constante de iniciativa e de empreendedorismo. Quando estalar o verniz, o perigo soltar-se-á: " O desespero do autómato humano é terreno fértil para os objectivos políticos do fascismo."
Novos estudos sobre o racismo dizem que no cérebro há um conflito entre ter atitudes racistas e ser-se neutro. Será?
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Hoje o dia foi de pegadas impressas sob o rumor do sol. Um dia luminosamente claro, perfeito para folhear Sophia, junto ao mar, e reter vagarosas saudades.
Aqui me sentei quieta
Com as mãos sobre os joelhos
Quieta muda secreta
Passiva como os espelhos
Musa ensina-me o canto
Imanente e latente
Eu quero ouvir devagar
O teu súbito falar
que me foge de repente.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Poética III, Caminho, pág. 168
Reverberações de um Domingo quase verão: é urgente proteger o exercício da profissão docente.
... as memórias procriam como se fossem pessoas vivas.
Agustina Bessa-Luís
O homem parte sempre da sua circunstancialidade para configurar a realidade. Mergulhando nela, constrói significações que traduzem uma visão do mundo e da vida. A arte é espelho desta condição, mas acrescenta-lhe realidade, o que é fascinante. Pela arte, nasce uma nova consciência e a realidade ganha um sentido profundamente humano. Pela arte, conciliamo-nos com o mundo.
Especulação financeira? A culpa é das tulipas.
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Apontamento gnómico de um dia lusco-fusco: o preço da verdade é elevado.
Quem escreve quer morrer, quer renascer
num ébrio barco de calma confiança.
Quem escreve quer dormir em ombros matinais
e na boca das coisas ser lágrima animal
ou o sorriso da árvore. Quem escreve
quer ser terra sobre terra, solidão
adorada, resplandecente, odor de morte
e o rumor do sol, a sede da serpente,
o sopro sobre o muro, as pedras sem caminho,
o negro meio-dia sobre os olhos.
António Ramos Rosa, Acordes
Na sua crónica de Domingo, Frei Bento Domingues diz-nos que há escritores que procuram no silêncio a profundidade da existência. Destaca Etty Hillesum, uma judia holandesa, morta em Auschewitz aos vinte e oito anos. Frei Bento Domingues transcreve, no Público, fragmentos do seu Diário (1941-1943); fragmentos que dão conta da resistência à humilhação que os nazis procuravam impor aos judeus.
(...) Podem tornar-nos as coisas algo complicadas, podem roubar-nos alguns bens materiais, alguma aparente liberdade de movimento, mas somos nós que cometemos o maior roubo a nós próprios.(...) Bem podemos, às vezes, sentirmo-nos tristes e abatidos por causa daquilo que nos fazem, isso é humano e compreensível. Porém, o maior roubo que nos é feito somos nós mesmos que o fazemos. Eu acho a vida bela e sinto-me livre.
Porque há 124 anos nascia Pessoa.
Depus a máscara, e tornei a pô-la.
Assim é melhor.
Sem a máscara.
E volto à personalidade como a um terminus da linha...
Álvaro de Campos
Se as coisas são estilhaços
Do saber do universo,
Seja eu os meus pedaços,
Impreciso e disperso
Fernando Pessoa
É impossível ler sem estremecimento esta entrevista inquietante a Christophe Dejours, psiquiatra, psicanalista e professor no Conservatoire National des Arts et Métiers, em Paris. Christophe Dejours dirige ali o Laboratório de Psicologia do Trabalho e da Acção – uma das raras equipas no mundo que estuda a relação entre trabalho e doença mental.
O que é que mudou nas empresas?
A organização do trabalho. Para nós, clínicos, o que mudou foram principalmente três coisas: a introdução de novos métodos de avaliação do trabalho, em particular a avaliação individual do desempenho; a introdução de técnicas ligadas à chamada “qualidade total”; e o outsourcing, que tornou o trabalho mais precário.
A avaliação individual é uma técnica extremamente poderosa que modificou totalmente o mundo do trabalho, porque pôs em concorrência os serviços, as empresas, as sucursais – e também os indivíduos. E se estiver associada quer a prémios ou promoções, quer a ameaças em relação à manutenção do emprego, isso gera o medo. E como as pessoas estão agora a competir entre elas, o êxito dos colegas constitui uma ameaça, altera profundamente as relações no trabalho: “O que quero é que os outros não consigam fazer bem o seu trabalho.”
Muito rapidamente, as pessoas aprendem a sonegar informação, a fazer circular boatos e, aos poucos, todos os elos que existiam até aí – a atenção aos outros, a consideração, a ajuda mútua – acabam por ser destruídos. As pessoas já não se falam, já não olham umas para as outras. E quando uma delas é vítima de uma injustiça, quando é escolhida como alvo de um assédio, ninguém se mexe…
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sophia de mello breyner andresen