Sexta-feira, 31 de Agosto de 2012

Que tristeza tão inútil essas mãos 
que nem sempre são flores 
que se dêem: 
abertas são apenas abandono, 
fechadas são pálpebras imensas 
carregadas de sono.


Eugénio de Andrade



publicado por omeuinstante às 10:00 | link do post

Quarta-feira, 29 de Agosto de 2012

Diz-se, Lolita é o romance de Vladimir Nabokov. É. Deu-lhe o reconhecimento merecido. Mas intrigante e desconcertante é acompanhar as satíricas aventuras de Fogo Pálido. O texto - hipertexto - é um poema em 999 versos, seguido de uma série de comentários ao próprio poema. Na nota bibliográfica da edição que leio, Eduardo Prado Coelho refere: 
Em Fogo Pálido, trata-se também de um jogo narrativo: partindo do comentário supostamente universitário de um longo poema vemos erguer-se um poderoso espaço de ficção que nos perturba, arrasta e permanentemente nos desconcerta.
Um jogo hermético que se constitui em paródia. Apesar de o Canto Dois ser o mais apreciado, transcrevo o início do Canto Um. Pelos pássaros.

 

Fui a sombra do ampelis despenhando-se

No céu falso da vidraça;

Fui a nódoa de um tufo de cinzas - e

Vivi sempre, fluí, no céu reflectido.

E também por dentro me dupliquei,

A minha luz, maçã pousada:
Desvelando a noite, deixarei o vidrado negro 
Suspender os móveis acima do solo
E que delícia o nevão que veio cobrir

O meu pedaço de terra, erguendo-se
Levando cama e cadeira a pairar
Sobre a neve lá fora, na terra de cristal!

A neve que cai: cada floco que paira
Lento e informe, opaco e corredio,

Branco sujo na placidez do dia
E os lariços abstractos à neutral luz.
E então os dois azuis graduais

Quando a noite une o olhar ao visto,
E de manhã, diamantes de gelo
Exprimindo espanto: que esporas cruzaram
Daqui para ali, a folha nua do caminho?
Ler daqui para ali no código do inverno:
Um ponto, seta de regresso...Pé de faisão
De anilhada beleza, tetraz sublime
Que encontra o seu oriente no meu quintal? 
(...) 



publicado por omeuinstante às 10:00 | link do post

Terça-feira, 28 de Agosto de 2012

Abro-te a porta do poema; e tu
espreitas para dentro da estrofe, onde
um espelho te espera.


Nuno Júdice



publicado por omeuinstante às 13:45 | link do post

 

 Maldivas, 2012. Revista Onfire Surf 



publicado por omeuinstante às 12:00 | link do post

Segunda-feira, 27 de Agosto de 2012

Como vai sendo hábito, o meu Agosto finda em Chaves entre a montanha e o olhar. Desta vez, as honras da casa vão para o belíssimo Forte de São Francisco, um edifício do século XVII, exemplarmente recuperado, e que é actualmente um monumento nacional. No seu interior, a igreja de S. Francisco acolhe os visitantes num silêncio secreto e conspirador. Um lugar encantatório.


 

 

 

 



publicado por omeuinstante às 19:02 | link do post

Domingo, 26 de Agosto de 2012


publicado por omeuinstante às 20:52 | link do post

António Cândido Miguéis escreve, hoje, no Público, o artigo Em busca do Graal da felicidade. Através de pequenos quadros interpretativos, que vão desde a visão pessimista - a felicidade é um bem para os tontos e para os ingénuos -, até à ideia de que ser feliz é um dom interior, alcançável pela busca incessante de instantes aprazíveis, sobrevoamos a história da condição humana e a busca da felicidade. Uma promessa que o homem sempre porfiou. No fundo, e sempre, somos nós que, em perspectiva, fazemos o caminho.

António Miguéis fecha o debate usando uma bela citação de José Luís L. Aranguren: 


A felicidade é o dom da paz interior, da conciliação de nós próprios com tudo e com todos. A felicidade como pássaro livre não estará nunca na mão, mas sempre voando. Quiçá, com sorte e quietude de nossa parte, ela pouse, por instantes, sobre a nossa cabeça.


Um breve bater de asas...



publicado por omeuinstante às 14:33 | link do post

Terça-feira, 21 de Agosto de 2012

Acorda-me
um rumor de ave.

Talvez seja a tarde 

a querer voar.

 

A levantar do chão

qualquer coisa que vive,

e é como um perdão

que não tive.

 

Talvez nada.

Ou só um olhar

que na tarde fechada

é ave.

 

Mas não pode voar.

Eugénio de Andrade, Os Amantes Sem Dinheiro ( 1947-1949), Limiar, pág 92



publicado por omeuinstante às 01:02 | link do post

Segunda-feira, 20 de Agosto de 2012

IIya Prigogine (1917-2003), Nobel da Química em 1977, aborda o problema do tempo através do uso de novas linguagens e, portanto, origina uma nova visão das ciências.  A reconstrução dos conceitos da física leva-o a considerar a incerteza e a escolha como propriedades da existência humana,  mas também do universo. Fruto da reflexão crítica de Prigogine surge a proposta de uma Nova Aliança entre o Homem e a Natureza e a de uma nova racionalidade. O Nascimento do Tempo é um pequeno texto resultante da transcrição de uma conferência apresentada por IIya Prigogine em Roma, a 12 de Fevereiro de 1987. Uma companhia oportuna para as noites claras de Agosto.
Começa assim:

O tema da minha comunicação diz respeito a uma pergunta clássica: o tempo tem um início? Sabemos que Aristóteles, no termo de uma análise do instante, concluía com a tese de que o tempo é eterno e que, na realidade, não se pode falar do seu início. Outras concepções, por exemplo as da tradição bíblica, levaram certos filósofos à ideia de que o tempo foi criado -num certo momento-, como as outras criaturas; tal foi, por exemplo, a opinião de Moisés Maimónides. Por seu lado, pensadores como Giordano Bruno ou Einstein acreditavam num tempo eterno. O que quereria agora mostrar-vos é que actualmente esta quaestio disputata pode ser retomada sob uma nova perspectiva.



publicado por omeuinstante às 21:53 | link do post

Sexta-feira, 17 de Agosto de 2012

O sol retorcido de verão cerra sentidos enquanto desperta o olhar em direcção a longínquos infinitos. Em Agosto, sou eu e o instante.



publicado por omeuinstante às 18:30 | link do post

443245.jpeg
Sem a música, a vida seria um erro. Nietzsche
links
posts recentes

Noctua/Erik Satie

Maria Velho da Costa (193...

Procida

A Sociedade do Cansaço

Ficções do interlúdio

As Noites Afluentes

A Árvore Dos Tamancos

Futuros Distópicos

Fragmento do Homem

No espaço vazio do tempo ...

Junho 2020
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6

7
8
9
10
11
12
13

14
15
16
17
18
19
20

21
22
23
24
25
26

28
29
30


tags

arte

cinema

david mourão-ferreira

educação

estética

eugénio de andrade

fernando pessoa

filosofia

fragmentos

leituras

literatura

livros

miguel torga

música

noctua

pintura

poesia

política

quotidiano

sophia de mello breyner andresen

todas as tags

arquivos

Junho 2020

Maio 2020

Junho 2019

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Janeiro 2018

Outubro 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

blogs SAPO