Sábado, 29 de Setembro de 2012


publicado por omeuinstante às 20:35 | link do post

As cores, mesmo pálidas, fazem-me feliz.
Meus olhos são capazes de tirar
fotografias. Sempre que me permito
ou com saliente tremura, ordeno, sinto,

Tudo o que cabe no meu campo de visão
- Uma cena de interior, folhas de nogueira, esbeltos

Estiletes de gélido estilicídio -

Permanece em fixação intraciliar 

E duram um bom par de horas
E enquanto isso bastar-me-á
Cerrar os olhos e ver as folhas,

Ou a cena de interior, ou os troféus de água.

Vladimir Nabokov, Fogo Pálido, Canto Primeiro 



publicado por omeuinstante às 20:17 | link do post

Sexta-feira, 28 de Setembro de 2012
É mais difícil ser livre do que puxar a uma carroça. Isto é tão evidente que receio ofender-vos. Porque puxar uma carroça é ser puxado por ela pela razão de haver ordens para puxar, ou haver carroça para ser puxada. Ou ser mesmo um passatempo passar o tempo puxando. Mas ser livre é inventar a razão de tudo sem haver absolutamente razão nenhuma para nada. É ser senhor total de si quando se é senhoreado. É darmo-nos inteiramente sem nos darmos absolutamente nada. É ser-se o mesmo, sendo-se outro. É ser-se sem se ser. Assim, pois, tudo é complicado outra vez. É mesmo possível que sofra aqui e ali de um pouco de engasgamento. Mas só a estupidez se não engasga, ó meritíssimos, na sua forma de ser quadrúpede, como vós o deveis saber. 

Vergílio Ferreira, Nítido Nulo


publicado por omeuinstante às 00:16 | link do post

Quarta-feira, 26 de Setembro de 2012

Do fotógrafo português Eduardo Gageiro, histórias a preto-e- branco.
A vã glória de mandar...

 


 Salazar e o mar

  

 Soldado retira a fotografia de Salazar




publicado por omeuinstante às 23:35 | link do post

Os teus lábios, digo-te, não são doces

Como mel.

 

(o mel acaba por enjoar)

 

Mas são doces, os teus lábios, digo-te.

Mas doces como quê?

Ora, doces como eles são.

 

Doces?

 

Sim, olha doces como pão

Que todos os dias comemos

Sem fartar.

 

Rui Knopfli, Obra Poética, Imprensa Nacional-Casa da Moeda (2003), pág 43



publicado por omeuinstante às 20:47 | link do post

Terça-feira, 25 de Setembro de 2012

Nada expõe com tanta nudez um texto como o palco (...).
Martin Crimp 



O ESTRANHO CORPO DA OBRA de MARTIN CRIMP
[Quatro pensamentos indesejados | Contra a parede | Menos emergências]


Centro Cultural e de Congressos de Caldas da Rainha
Pequeno Auditório

ESTREIA 4 DE OUTUBRO 

SESSÕES PARA GRUPOS ESCOLARES| 5 e 11 de Outubro, 21h30






publicado por omeuinstante às 20:57 | link do post

Quero estar aqui. E respirar o azul claro dos dias.



 Manet ( 1832-1883) - Blue Venice



publicado por omeuinstante às 14:20 | link do post

Quinta-feira, 20 de Setembro de 2012



publicado por omeuinstante às 21:20 | link do post

Quarta-feira, 19 de Setembro de 2012

Entre o sono e sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.

Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.

E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre -
Esse rio sem fim.

Fernando Pessoa, 11-9-1933 



publicado por omeuinstante às 17:17 | link do post


Borboleta.Rafael Bordalo Pinheiro.
Azulejo relevado polícromo. Pintura à mão. 
Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha.


publicado por omeuinstante às 17:04 | link do post

Perguntas: 
Quem sou eu?
A realidade que eu conheço corresponde à realidade que existe?
Como se relaciona a  nossa mente com a realidade exterior a ela?
O que é a realidade?
O que é o conhecimento? 

Chuang Tzu e a Borboleta
 
Uma noite em que estive meditando,
Horas longas nas coisas deste mundo,
pouco a pouco me veio um sono brando
E um sonho tão jucundo que ninguém já teve, assim:
Sonhei que era uma lépida e elegante borboleta voando,
de pouso em pouso, sobre o néctar dulcíssimo das flores.
Tempos e tempos, uma vida inteira, andei eu
Com outras companheiras, numa doideira,
Na estação quente dos amores.
Tudo me parecia tão real, tal qual estou dizendo,
E até me lembro, que, numa tarde muito fria, quando sol procurava,
Um vento tão gelado de repente me assaltou,
Tão mal, tão mal, fiquei, que logo ali, sobre um jasmim, morri!
Despertei: e acordado, ainda insecto morto me julguei!
que sonhos tem a gente -  extravagantes!
Sonhos?! - que fosse sonho, então acreditei,
Mas após muito cogitar vejo só um caso emaranhado!
Justifico: é que a minha convicção
De existir como insecto foi tão firme antes,
Como agora é a de ser de humana geração!
E, portanto: fui antes um homem que sonhava ser uma borboleta,
ou sou agora uma borboleta que sonha que é um homem?
Erro do intelecto?
Não sei...

Versão Poética (adaptada) de Silva Mendes, Excertos de Filosofia Taoísta, Macau, Escola de Artes e Ofícios, 1930
( in Pensar Azul, Manual de Filosofia, 11º ano)
 




publicado por omeuinstante às 16:37 | link do post

Terça-feira, 18 de Setembro de 2012

Ao fundo, do outro lado da vida, a música. Sem versos, rompe o desconhecido...



publicado por omeuinstante às 12:45 | link do post

Segunda-feira, 17 de Setembro de 2012

O campo da inteligência artificial está associado à compreensão das entidades inteligentes e também à sua construção. A partir do estudo realizado em seres humanos e em animais e entrosando-se com variados campos de conhecimento ( matemática, linguística, ciências da computação, filosofia e lógica e ciências cognitivas e psicologia), a disciplina pretende avançar no âmbito das máquinas cognitivas. Pode o cérebro artificial pensar? John Searle em Mente, Cérebro e Ciência diz que não. O sentido humaniza-nos.

A razão por que nenhum programa pode alguma vez pensar é simplesmente porque um programa de computador é apenas sintáctico , e as mentes são mais do que sintácticas. As mentes são semânticas, no sentido de que possuem mais do que uma estrutura formal, têm conteúdo. (...) pensar é mais do que apenas uma questão de manipular símbolos sem significado; implica conteúdos semânticos significativos (...)



publicado por omeuinstante às 20:56 | link do post

Sexta-feira, 14 de Setembro de 2012

(...) A democracia consiste em submeter o poder político a um controlo.

Popper, Karl e Contry, John, Televisão: um perigo para a democracia, 1ª Edição, Gradiva, Lisboa, 1995 



publicado por omeuinstante às 18:06 | link do post

Qualquer homem sensato reconhece os limites do seu saber e da sua acção. Ora, o problema de Passos Coelho não reside na explicação da estratégia ao país, mas na estratégia da explicação. É indispensável para o orador conhecer o auditório sobre o qual exerce a acção. Passos Coelho demonstra não o saber, é um político afastado da vida, rodeado de gente que gosta da frescura do ar condicionado dos gabinetes. Quando assim é, o princípio da discutibilidade torna-se inoperante.



publicado por omeuinstante às 13:02 | link do post

Quinta-feira, 13 de Setembro de 2012

Não fiques para trás, ó companheiro,
é de aço esta fúria que nos leva.
(...)

José Gomes Ferreira 


(Letra do hino da organização Jornada (1947), ramo juvenil do MUD. A música é composta por Fernando Lopes-Graça.)


 



publicado por omeuinstante às 12:15 | link do post

Quarta-feira, 12 de Setembro de 2012

(...) Direis: o magistrado fará, com as forças de que dispõe, o que julgar ser da sua alçada. Dizeis bem, responderei eu. Mas, aqui, investiga-se o modo como bem agir e não o êxito das coisas duvidosas.

Mas, vindo mais ao pormenor, digo: em primeiro lugar, o magistrado não deve tolerar nenhum dogma oposto e contrário à sociedade humana ou aos bons costumes necessários à conservação da sociedade civil. Mas tais exemplos são raros em qualquer igreja. Com efeito, os dogmas que claramente arruínam os fundamentos da sociedade são condenados pelo juízo do género humano; nenhuma seita levaria a loucura ao ponto de julgar que se devem ensinar dogmas em virtude dos quais os próprios bens, a paz e a reputação não estariam em segurança.

Em segundo lugar, um mal certamente mais escondido e mais perigoso para o Estado é constituído por aqueles que se arrogam, para eles e para a sua seita, um privilégio particular e contrário ao direito civil, que cobrem e disfarçam com discursos especiosos. Em lado algum, praticamente, encontrareis pessoas a ensinar crua e abertamente que não é necessária a fidelidade à palavra dada; que o príncipe pode ser afastado do trono por qualquer seita e que o governo de todas as coisas só a eles pertence. (...) Estas pessoas e outras semelhantes, que atribuem aos fiéis, aos religiosos, aos ortodoxos, isto é, a elas próprias, nas coisas civis, algum privilégio e algum poder de que o resto dos mortais não dispõe; ou que reivindicam para si, sob pretexto de religião, certos poderes sobre os homens estranhos à sua comunidade eclesiástica, ou que dela de qualquer maneira se separaram, estas pessoas não podem ter o direito de ser toleradas pelo magistrado; nem também os que não querem ensinar que é preciso tolerar os que entram em dissidência relativamente à sua própria religião. Que outra coisa ensinam estas pessoas e todos os da sua espécie senão que, na melhor ocasião, tentarão usurpar os direitos do Estado, os bens e a liberdade dos cidadãos?

 

Locke, Carta Sobre a Tolerância, trad. João da Silva Gama, Lisboa, Edições 70, 1996, pp. 116-117



publicado por omeuinstante às 17:31 | link do post



publicado por omeuinstante às 15:01 | link do post

Segunda-feira, 10 de Setembro de 2012

Apesar da linguagem, a comunicação de Pedro Passos Coelho anuncia mais austeridade. Um discurso que esmaga o direito dos portugueses ao presente e os reduz a abstracções numéricas.

Há muito que sabemos que o problema da fala é de ordem política e ética: falar, é falar verdade para si e para a Pólis. Outras latitudes, onde a linguagem se revela um “acontecer possibilitante”.

 

Entre os gregos tudo dependia do povo, e o povo dependia da fala.
 

Fénelon, Carta à Academia, IV.




publicado por omeuinstante às 22:03 | link do post

Domingo, 9 de Setembro de 2012

( Respigado em O Estado da Educação e do Resto)



publicado por omeuinstante às 20:59 | link do post

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Sem a música, a vida seria um erro. Nietzsche
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