Sábado, 30 de Novembro de 2013

 

Acabei de ver "Hannah Arendt". Tendo como pretexto o julgamento de Adolf Eichmann, o filme expõe a radicalidade do acto de pensar e explica-nos, de forma clara, que a "banalidade do mal" resulta de um conjunto de actos rotineiros, acessíveis a qualquer ser, tão rotineiros que se torna impossível "cumprir as exigências da justiça". Quando os seres humanos se recusam a ser pessoas e se recusam a pensar, tornam-se incapazes de realizar juízos morais e as categorias éticas, que balizam a acção e o pensamento, desaparecem. De súbito, estamos perante " As origens do Totalitarismo", que Hannah avalia: "compreender não é perdoar". Deste modo, e quando Hannah afirma que "a manifestação do vento do pensamento não é pensar", mostra-nos a especificidade da problematização filosófica: a radicalidade, a universalidade, a autonomia e a historiciade. Uma lição, portanto.

O filme coloca ainda um vasto conjunto de questões, que atravessam a obra da filósofa, como as noções de aparência, realidade, culpa, perdão, justiça...permitindo-nos fazer uma comparação com o momento vivido pela sociedade portuguesa: o "mal" assola-nos, restará alguém para culpar, entre O Passado e o Futuro?

 



publicado por omeuinstante às 20:37 | link do post

Sexta-feira, 29 de Novembro de 2013
(...) digo-te o que descobri. O conhecimento pode ser comunicado, mas a sabedoria, não. Uma pessoa pode encontrá-la, vivê-la, ser fortificada por ela, operar maravilhas por seu intermédio, tudo menos comunicá-la e ensiná-la. Desconfiei disso quando ainda era novo e foi isso que me afastou dos mestres. 

Hermann Hesse, Siddhartha, Minerva, 1997



publicado por omeuinstante às 10:00 | link do post

Quinta-feira, 28 de Novembro de 2013

 

Novo ensaio de José Gil. Ainda não o li, mas disseram-me hoje que é um texto excelente sobre os enigmas da heteronímia pessoana. 

 

«Uma vez admitida a noção de “vida heteronímica”, trata-se então de explorar todo um campo que até agora mereceu pouca atenção. Múltiplas questões nascem, cuja sondagem se revela pertinente para a compreensão de tal e tal heterónimo. Por exemplo, porque é que Fernando Pessoa faz morrer Caeiro e mais nenhum heterónimo? Ou: como caracterizar o corpo de Caeiro a que o poeta neopagão se refere constantemente? A estas perguntas, os dois primeiros ensaios deste livro procuram responder. Mas inúmeras outras pedem resposta: porque é que Álvaro de Campos interfere na relação amorosa de Fernando Pessoa e Ofélia (quando nenhuma relação desse tipo se vislumbra na obra do engenheiro naval)? Porque é que o patrão Vasques se destaca no deserto da paisagem humana do Livro do Desassossego? (…)
Este conjunto de textos divide-se em duas partes: na primeira, explora-se uma ínfima área da “vida heteronímica” formada por “acontecimentos e elementos” reais dessa vida, no caso exclusivo de Alberto Caeiro. Na segunda parte, o campo analisado remete para os mecanismos de construção da “subjectividade” heteronímica (estendendo-a ao teatro); e para o mapa — a traçar, em toda a sua complexidade — dos afectos que atravessam o Livro do Desassossego e o corpo de Bernardo Soares.» [Da Nota Prévia]

RELÓGIO D'ÁGUA 

 





publicado por omeuinstante às 00:15 | link do post

Sábado, 16 de Novembro de 2013

 

Canto I

 

49

Não é por acaso que não consegues, por mais que tentes,

atingir em cheio o dia - qualquer que ele seja - 

como se faz às baleias com um arpão.

Os dias têm um invólucro espesso,

uma armadura do material mais resistente que existe:

tudo aquilo de que não se sabe onde está o centro

está seguro.

Assim são os nossos dias que bem queríamos aniquilar

com um arpão. Baleia absurda, sem corpo,

o tempo.

 

Uma Viagem à Índia, Gonçalo M. Tavares, Caminho, pág. 46


 



publicado por omeuinstante às 17:19 | link do post

Sexta-feira, 15 de Novembro de 2013



publicado por omeuinstante às 23:50 | link do post

Segunda-feira, 11 de Novembro de 2013

 

As cidades mencionadas por Marco Polo a Kublai Khan têm todas nomes de mulher. Por culpa dos espelhos, parei em Valdrada, cidade edificada nas margens de um largo lago. Uma viagem sem acessórios, porque, aqui, e em todas as cidades descritas por Italo Calvino, o viajante necessita apenas de si mesmo. Cidade sem lugar nem tempo, mas onde a universalidade da linguagem (poética) transporta a humanidade toda. 
Requisito único: na imaginação, a liberdade...


Um livro mágico. Não me canso de o ler.

 

III


 As cidades e os olhos. 1.

 

Os antigos construíram Valdrada nas margens de um lago com casas todas varandas umas por cima das outras e ruas altas que fazem assomar à água os parapeitos em balustre. Assim o viajante ao chegar vê duas cidades: uma direita sobre o lago e uma reflectida de pernas para o ar. Não existe nem acontece coisa numa Valdrada que a outra Valdrada não repita, porque a cidade foi construída de modo a que todos os seus pontos fossem reflectidos pelo seu espelho, e a Valdrada na água contém não só todas as estrias e os remates das fachadas que se elevam por cima do lago mas também o interior das casas com os tectos e pavimentos, a perspectiva dos corredores, os espelhos dos armários.

  Os habitantes de Valdrada sabem que todos os seus actos são ao mesmo tempo esse acto e a sua imagem especular, a que pertence a especial dignidade das imagens, e esta sua consciência proíbe-os de se abandonarem por um só instante ao acaso e ao esquecimento.
(...) 


 

 (A capa desta edição da Teorema -  reprodução do quadro de  Bruegel, A Torre de Babel)



publicado por omeuinstante às 23:19 | link do post

Quinta-feira, 7 de Novembro de 2013

 

David Mourão-Ferreira (1927-1996)

 

Casas, carros, casas, casos.
Capital
          encarcerada.

Colos, calos, cuspo, caspa.
Cautos, castas. Calvos, cabras.
Casos, casos… Carros, casas…
Capital
          acumulado.

E capuzes. E capotas.
E que pêsames! Que passos!
Em que pensas? Como passas?
Capitães. E capatazes.
E cartazes. Que patadas!
E que chaves! Cofres, caixas…
Capital
           acautelado.

Cascos, coxas, queixos, cornos.
Os capazes. Os capados.
Corpos. Corvos. Copos, copos.
Capital,
           oh! capital,
capital
         decapitada!



publicado por omeuinstante às 21:59 | link do post

443245.jpeg
Sem a música, a vida seria um erro. Nietzsche
links
posts recentes

Noctua/Erik Satie

Maria Velho da Costa (193...

Procida

A Sociedade do Cansaço

Ficções do interlúdio

As Noites Afluentes

A Árvore Dos Tamancos

Futuros Distópicos

Fragmento do Homem

No espaço vazio do tempo ...

Junho 2020
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6

7
8
9
10
11
12
13

14
15
16
17
18
19
20

21
22
23
24
25
26

28
29
30


tags

arte

cinema

david mourão-ferreira

educação

estética

eugénio de andrade

fernando pessoa

filosofia

fragmentos

leituras

literatura

livros

miguel torga

música

noctua

pintura

poesia

política

quotidiano

sophia de mello breyner andresen

todas as tags

arquivos

Junho 2020

Maio 2020

Junho 2019

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Janeiro 2018

Outubro 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

blogs SAPO