Quinta-feira, 26 de Julho de 2012
É incontornável. A questão da temporalidade da leitura de um texto obriga a atenção a dirigir-se para a distinção barthesiana entre textos de prazer e textos de gozo. Os textos de prazer, os clássicos, abrem-se ao entendimento do leitor sem sobressaltos; os textos de gozo, modernos, forçam a captação da sua inteligibilidade sob pena de fazer cair o leitor numa lentidão irreversível.
O que é que confere, então, rapidez à leitura? O que é que sistematiza a legibilidade? Roland Barthes diz que não há critérios objectivos para definir as práticas textuais, uma vez que só o próprio texto baliza o gozo do tempo de mergulho e a sua fenda. E depois, há sempre os livros que oferecem resistência.
Ser legível é um modelo clássico vindo da escola: ser legível é ser lido na escola.

De anamar a 28 de Setembro de 2011 às 15:57
Barthes! sempre a erotização do texto.
Um prazer este instante.
De Carlos T. a 28 de Setembro de 2011 às 16:10
transgressões que fazem nascer textos. Gostei
Uma possibilidade: a sistematização da legibilidade do texto e a rapidez com que é entendido poderá advir da sua profundidade histórica - da rede de ligações com outros textos e outras visões do mundo que o leitor assuma, por assim dizer, em si.
O texto poderá ser mais facilmente entendido e gozado pelo leitor (para usar a terminologia barthesiana) se ligado pelo próprio à veia da memória que tem em si de outros textos, de outros autores e da experiência do mundo que comporta em si próprio.
Aqui, poderá ser igualmente importante discutir o entendimento mais ou menos rápido do texto não como o reflexo da temporalidade da obra mas, outrossim, da temporalidade do próprio leitor, das experiências que o ligam e religam ao texto. É nessa relação mais ou menos interior com a própria obra que o leitor faz parte do texto, que o integra, que o dissolve em si próprio, que o assimila e o faz mais rápido em si.
Dizer de um texto que é moderno ou clássico pode, neste contexto, ser perigoso, se o ligarmos à forma mais ou menos rápida da sua inteligibilidade. É certo que ler (se é que assim pode ser dito...) a Margarida Rebelo Pinto na praia é aparentemente mais fácil que ler Camus na praia, mas é, em último caso, o leitor que define a inteligibilidade do texto. E, aqui como em qualquer outra coisa, as aparências iludem.
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