O Teatro da Cornucópia tem em cena A Varanda, peça do dramaturgo francês Jean Genet. É considerada uma obra incontornável do teatro moderno. É um texto profundamente filosófico e político, uma metáfora do Mundo, da Cultura Ocidental e do próprio Teatro.
A Varanda é o nome de um Bordel por onde desfilam, e caem, homens comuns transvestidos de figuras notáveis ( ou é ao contrário?), desde o Bispo, o Juíz e o General, entre outras; também o Herói de todas as revoluções, mesmo o das interiores que fervilham em cada ser.
Através duma linguagem cheia de armadilhas, assistimos ao jogo de máscaras entre a Ilusão e o Reflexo, a Mentira e a Verdade, a Vida e a Morte. Um texto que suspende as fronteiras entre o real e o imaginário, uma vez que esbate a capacidade de desocultar a opacidade das diversas máscaras com que a Cultura milenar esconde a pele da Natureza.
A sessão de fotografias é um momento fulcral nesta grande encenação de Luís Miguel Cintra. Os flashes captam, pela reconstrução permanente, a acção histórica e as máquinas desejantes que integram o nosso presente alienado de imagens e reflexos de imagens.
A encenação final do Homem acontece com a mutilação do herói, aquele que pela morte nos dá a face da vida. E assim, por mais dois mil anos, repete-se o simulacro da Verdade, numa lancinante investigação sobre o Ser e sobre a tragicidade do seu desvelamento. Uma autêntica genealogia do Bem e do Mal porque, como nos diz Holderlin, onde está o perigo, cresce também aquilo que salva.
Como síntese do olhar que lançamos da Varanda sobre a Cidade, usemos a expressão do texto- Bela é a máscara.
São quatro horas breves de desintoxicação, como lhe chamou Sartre.
Todas as personagens estão de parabéns. A não perder.
sophia de mello breyner andresen