A sociedade humana necessita de paz, mas necessita igualmente de conflitos sérios e de ideais: de valores, de ideias pelos quais possamos lutar. Na sociedade ocidental aprendemos- e aprendemos com os gregos- que é possível fazê-lo não tanto com a espada, mas muito melhor e mais persistentemente com palavras. E, sobretudo, com argumentos razoáveis.
Uma sociedade perfeita é, por conseguinte, impossível. Existem, porém, ordens sociais melhores e piores. A nossa civilização ocidental decidiu-se a favor da democracia, como uma forma de sociedade que pode ser alterada pela palavra e, aqui e ali- se bem que raramente- por argumentos racionais, por uma crítica racional, isto é, realista- através de reflexões críticas não-pessoais, características também da ciência, designadamente da ciência da natureza, desde os gregos. Sou, pois, um defensor da civilização ocidental, da ciência e da democracia. Elas dão-nos a oportunidade de prevenir o infortúnio evitável e de experimentar, de apreciar criticamente e, se necessário, aperfeiçoar as reformas (...). E confesso-me igualmente partidário da ciência, hoje tantas vezes caluniada, que busca a verdade através da auto-crítica e que, a cada nova descoberta, descobre de novo quão pouco nós sabemos- quão infinitamente grande é a nossa ignorância e falibilidade. Foram intelectualmente humildes. (...).
Karl Popper, Em Busca de Um Mundo Melhor
sophia de mello breyner andresen