Quanto tempo Portugal vai estar assim? Uma pergunta humanista que resulta da colocação de dilemas morais do presente. Dilemas do homem comum, não da classe dirigente. Hoje, no Público.
A pergunta só é crucial para alguns, não é para todos e é por isso que (...) só é uma pergunta para quem não vive bem, ou vive cada vez pior.
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O resultado é um abismo psicológico cada vez maior que vai tornar Portugal numa sociedade ainda mais dual do que já era, duas partes que sentem diferente, agem diferente e vivem diferente.
Numa sociedade já muito descalçada e fragmentada, este abismo entre pessoas e grupos sociais vai coalescer os fragmentos, um para cada lado, mas não os vai aproximar.
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É por isso que anda um Portugal lá fora desiludido, revoltado, deprimido, sem esperança, nem sentido, que, ou cai na mais completa anomia e submissão, ou esbraceja sem sentido contra tudo e contra todos. É a grande tragédia da política democrática é que essas pessoas estão sós, não contam com ninguém a não ser com os restos que ainda subsistem de genuina solidariedade social, e do que sobra da família, estilhaçada pela engenharia " fracturante" das últimas décadas. A elite dirigente, política e económica, sabe pouco desse sentimento de solidão, e, pior ainda, sabe cada vez menos, porque os modos de vida se separam todos os dias, entre o conforto do poder e a devastação da pobreza. O rasgão que isto está a fazer num Portugal já muito puído será muito difícil de remendar.
José Pacheco Pereira. Historiador.
sophia de mello breyner andresen