Segunda-feira, 30 de Abril de 2012

O utilitarismo de Stuart Mill proclama que a moralidade das acções depende da utilidade, isto é, das suas consequências. São morais as acções que respeitam o Princípio da Maior Felicidade, as que se traduzem por uma maior felicidade para o maior número possível de pessoas.
J. Rawls em Teoria da Justiça, critica o utilitarismo. Este excerto é disso exemplo.

Toda a pessoa possui uma inviolabilidade baseada na justiça, a qual não pode ser atropelada em nome do bem-estar do conjunto da sociedade.
Por esta razão a justiça proíbe que a perda de liberdade de alguns possa ser justificada pelo facto de que outros obtêm um maior bem-estar. Ela não permite que os sacrifícios impostos a uns poucos possam ser compensados pelo aumento dos benefícios obtidos por muitos.

Portanto, numa sociedade justa, as liberdades de igual cidadania consideram-se como definitivamente estabelecidas, os direitos assegurados pela justiça não estão sujeitos a negociações políticas, nem ao cálculo de interesses sociais.
A única coisa que nos permite assentir a uma teoria errónea é a falta de outra melhor; do mesmo modo uma injustiça só é tolerável quando ela é necessária para evitar outra injustiça ainda maior.
Sendo as primeiras virtudes das actividades humanas, a verdade e a justiça não podem estar sujeitas a transações.
 



publicado por omeuinstante às 22:39 | link do post

6 comentários:
De Raquel a 30 de Abril de 2012 às 23:13
E assim torna o modelo "café para todos" inovador. Equitativo, portanto.


De OD a 30 de Abril de 2012 às 23:47
Talvez seja redutor apresentar apenas o Princípio da Maior Felicidade. Mill tem outro princípio que complementa bem o primeiro. O Princípio do Dano: "O único fim em função do qual se pode legitimamente exercer poder sobre qualquer elemento de uma comunidade civilizada, contra a sua vontade, é a prevenção de possíveis danos sobre terceiros. O seu próprio bem, físico ou moral, não constitui razão suficiente".

Recorrendo também a Rawls, coloca-se a questão da possibilidade da existência de uma sociedade composta por pessoas equitativamente livres. É concretizável? Ou o melhor que podemos esperar é a maximização da felicidade na sociedade em geral, conforme defendido por Mill?


De omuroeajanela a 1 de Maio de 2012 às 12:27

Assim, o utilitarismo propõe-nos um "cálculo", com base no qual julgaremos a bondade das acções: cálculo em relação ao número de pessoas envolvidas na acção, mas também em relação ao grau de prazer ou dor causados pelo acto. Já os epicuristas na Grécia Antiga falavam de uma "aritmética do prazer"...
Embora não seja propriamente especialista, o utilitarismo parece-me uma visão muito redutora da problemática da fundamentação das acções morais.


De Manuel a 1 de Maio de 2012 às 17:19
Lembrei-me desta "tirada", por sinal retirada da Enciclopédia Britânica, em relação à "moral dos Cafres", que eu ora estou a retirar dum pequeno livro: "Dão provas, nas suas relações sociais e políticas, de muito tacto e inteligência. São extremamente corajosos, belicosos e hospitaleiros. Foram honestos e verdadeiros, enquanto o contacto com os brancos os não tornou desconfiados, vingativos e ladrões, e assimilaram, além disso, a maior parte dos vícios dos europeus." - in "Leur morale et la nôtre" de Léon Trotsky.


De R. a 1 de Maio de 2012 às 17:54
Parece-me um erro retirar o contributo de Mill do contexto de época, e principalmente do contributo de Smith, que ao defender o principio da maior felicidade, com os devidos ajustes para o principio da procura da maximização da satisfação/utilidade individual, em termos sociais, cria uma teia de jogos individuais que, conjugados, resultam em maior satisfação/utilidade para a sociedade como um todo, evitando-se, ao mesmo tempo, danos a cada um dos indivíduos que a compõe, visto que a busca de satisfação de um é condicionada pela busca de satisfação do outro.


De Francisco a 1 de Maio de 2012 às 18:36
Com ou sem contexto, S. Mill é claro:
O fim último, em relação ao qual e em função do qual todas as outras coisas são desejáveis, é uma existência tanto quanto possível livre de dor, e também na medida do possível, rica em deleites no que respeita à quantidade e qualidade e recusa-se a admitir que o sacrifício seja um bem...


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