O novo filme de David Cronenberg, Cosmopolis, dá-nos o mundo em vinte e quatro horas. A narrativa passa-se em Manhattan, local de todas as "assimetrias", dentro de uma limusine onde Packer vive num ambiente claustrofóbico.
Através do vidro do carro- alusão ao mundo virtual- assistimos à desconstrução de um homem rico, um homem profundamente desamparado e sitiado na vertigem do capitalismo contemporâneo. Um filme onde as personagens se afirmam pelo rosto e pela palavra (à semelhança da Pólis grega), impelindo-as pelo discurso até à queda final. Entretanto, nesta viagem intempestiva, somos fustigados por temas que reconhecemos presentes na sociedade contemporânea: o individualismo, a violência quotidiana, a agressividade dos grandes espaços desumanizados, o progresso científico e técnico, a sociedade de consumo, a ausência de relações afectivas sólidas, a fantasia, a náusea de existir, a morte...
Apesar do filme provocar críticas "assimétricas", gostei muito e aconselho.
sophia de mello breyner andresen