Terça-feira, 24 de Julho de 2012

Artigo de Opinião-  Viriato Soromenho Marques, DN, 24-07-12

 

A natureza das instituições avalia-se pela sua resiliência às crises. O carácter dos amigos mede-se pela sua capacidade de ficarem ao nosso lado, contra tudo e contra todos, nas horas de perigo e desgraça. O que está a suceder a Espanha, a mergulhar numa espiral de destruição, revela que a União Económica e Monetária, como está, se tornou uma sala de tortura, condenada a perecer, e que os Estados membros da União Europeia são governados por uma gente pequenina que não percebe que é preciso ajudar os nossos aliados para nos ajudarmos a nós próprios. O índice IBEX, das maiores empresas espanholas, tem hoje menos valor bolsista do que dívida conjunta dessas empresas. A dívida pública espanhola (e italiana) está a subir em todos os prazos, apesar do incrível pacote de terror económico imposto por Berlim e Bruxelas a Madrid, para a aprovação do empréstimo de cem mil milhões de euros para o sector bancário. As autonomias, com Valência à cabeça, estão arruinadas. O cínico Weidmann, o torquemada monetarista à frente do Bundesbank, aconselhou Espanha a pedir um "resgate completo". Suprema crueldade! O FEEF está reduzido a trocos e o MEE está na mesa do Tribunal Constitucional Alemão, sob observação, pelo menos até 12 de setembro... O BCE nunca mais fez compras no mercado secundário. Prometer o que não se tem é o máximo insulto a quem precisa... Reina o silêncio dos cobardes na maioria das capitais europeias. O de Lisboa é inqualificável. Só Monti, que sabe ser a Itália o próximo alvo, expressa a sua inquietação em voz alta. Por este caminho, este será o último verão da Zona Euro. O último verão antes de uma nova, perigosa e incerta geografia política europeia, cujas dores de parto não pouparão ninguém.



publicado por omeuinstante às 12:35 | link do post

1 comentário:
De João Coelho a 24 de Julho de 2012 às 14:08
A falência deste sistema de organização europeia é uma evidência, uma realidade tão límpida que parece atravessar as paredes dos gabinetes de quem manda sem que quem manda dê por essa falência organizacional, pelo facto de ser tão evidente, tão pura, tão molecular, tão fina.
Este sistema faliu por se objectivar nas coisas e não nas pessoas. As coisas são imutáveis (uma teoria económica, mesmo que admitida a sua volatilidade, circula por dentro de si própria, pelos caminhos inventados da sua imensa circularidade); as pessoas, não. As pessoas pensam, reagem, mudam radicalmente a sua forma de pensar e de agir conforme as circunstâncias. As pessoas não são teorias, nem sequer, em boa verdade, são o seu fundamento. As teorias não se auto fundamentam; subsistem, até ver. As pessoas existem mas não se justificam enquanto pessoas pela sua existência - a sua sobrevivência não é o fundamento da sua existência.
Enquanto esperarmos que a falência deste sistema transpareça (se faça, ao menos, como fumo) aos olhos de quem o alimenta, nada mudará para melhor. Rigorosamente nada.


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