É no 4.º episódio de As Bacantes que surge o tema da loucura. Ao longo desta cena de enlouquecimento de Penteu, há um jogo dialéctico persistente entre ser e parecer, ver e não ver. Eurípedes apresenta Penteu vestido de ménade e sob os efeitos do delírio dionisíaco que, disfarçado de sacerdote, o irá ridicularizar.
Penteu, tomado de estranha perturbação dos sentidos e com uma sensação patológica de força, julga poder transpor às costas o Citéron. No final do episódio, e neste estado de delírio, Diónisos conduz o rei para as montanhas, onde será morto e dilacerado pelas Bacantes que tão ardentemente deseja observar.
Um diálogo de forte ironia trágica e onde as palavras estão carregadas de duplo sentido.
O episódio tem dado motivo a diversas análises e interpretações psicanalíticas, uma vez que Penteu se disfarça de ménade/bacante/mulher com o propósito de as espiar. Espiar as Bacantes constituía profanação dos mistérios e delito que a pólis grega punia com a morte.
A força da tragédia: a mudança de Penteu de caçador em caçado.
(a partir da leitura do artigo de José Ribeiro Ferreira em "As Bacantes e o Nascimento da Tragédia")
Dioniso
Tu, que de ver o que não deves tão desejoso estás,
e o que é vedado te é solicitas, a ti falo, ó Penteu,
sai do palácio e oferece-te a meus olhos,
envergando uma veste de mulher, de Ménade, de Bacante,
tu, o espia de tua mãe e suas sectárias...
(Entra Penteu, vestido de Bacante e com o tirso na mão.)
Uma das filhas de Cadmo nas feições me pareces
Penteu
Eu estou em crer que vejo dois sóis...
E vejo Tebas, a cidade das sete portas, a dobrar...
A ti, que me conduzes, um touro eu te creio,
e na tua cabeça despontaram chifres...
Já eras dantes uma fera! Em touro te tornastes!
(...)
sophia de mello breyner andresen