Tendo como pretexto A História de Khosrow e Shirin, poema clássico da literatura persa do século XII, o realizador iraniano Abbas Kiarostami envolve-nos nos amores de uma princesa arménia pelo rei da Pérsia e no triângulo amoroso que resulta da paixão de Shirin por Farhad.
A construção hermenêutica da narrativa passa pelo olhar de 114 mulheres de várias gerações, e através duma banda sonora que partilha dos sentidos do discurso.
Uma vez que tudo está velado ao espectador, é pelas emoções que passam no rosto destas mulheres - choro, riso, contentamento, cumplicidades, prazer, sofrimento - que se dá o acesso ao entendimento. Em Shirin, o rosto é a porta das percepções.
Neste filme metafísico - o corpo é apenas som - nós somos observadores e observados, como se de um jogo de espelhos se tratasse.
É um filme onde se percebe que a chave da sabedoria anda perdida nos caminhos do Amor. Amor? "lágrimas de sete cores", ensina o poema.
Neste invisível presente, Shirin é cada um de nós.
Belíssimo. A não perder.
sophia de mello breyner andresen