Nada a fazer. Hoje apetece-me Pensar com Vergílio.
O intelectual. Que tipo. Será uma espécie em vias de extinção? Ele é o inútil, o complicado, o chato.
(...)
Sugeria alguém que se suprimisse a filosofia do curso dos liceus. Há lá coisa mais compreensível? O filósofo, imagine-se. O das minhoquices.(...)
Para quê um romance que nos chateia com a maçada de "pensar"? Pensar o quê, se a vida é já tão maçadora?(...) E os poetas, esses loucos mansos que não farão mal a ninguém mas nos atrapalham o trânsito?
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Há todavia um pequeno pormenor maçador e é que a própria humanidade sofre com isso também uma baixa por tabela. É esquisito mas é assim.
Porque se não fossem esses chatos, a história dos humanos era apenas a pocilga com apenas talvez uma variedade de feitio.
Vergílio Ferreira, Pensar, Bertrand, 1992, p 94
sophia de mello breyner andresen