Os dias talvez sejam iguais para um relógio, mas não para um homem.
Marcel Proust
A verdade é insatisfeita, destrói-se ininterruptamente para dar lugar a outra verdade, tal os mitos, que duram só até outros nascerem.
Fernando Namora
... assim é a voz do poeta: um fio de silêncio costurando o tempo.
Mia Couto
Se há aqui excesso de nomes e referências, sejam eles tomados como montagem, concebida num apoio cultural estilisticamente irónico.
Herberto Helder
Na vida não há aulas para principiantes, exigem-nos logo o mais difícil.
Rainer Rilke
Vitorino Nemésio (1901-1978) ensaísta, escritor e poeta, vai ser homenageado no Centro Cultural de Belém, no dia 18 de Setembro, a partir das 15 horas.
Oportunidade para acordar a memória, ao sabor de re-leituras que o tempo guardou; através da obra poética, e, se bem me lembro, do romance Mau Tempo no Canal.
Quando penso no mar
A linha do horizonte é um fio de asas
E o corpo das águas é luar;
De puro esforço, as velas são memória
E o porto e as casas
Uma ruga de areia transitória.
Sinto a terra na força dos meus pulsos:
O mais mar, que o remo indica,
E o bombeado do céu cheio de astros avulsos.
Eu, ali, uma coisa imaginada
Que o eterno pica,
Vou na onda, de tempo carregada,
E desenrolo:
Sou movimento e terra delineada,
Impulso e sal de pólo a pólo.
Quando penso no mar, o mar regressa
A certa forma que só teve em mim –
Que onde ele acaba, o coração começa.
Começa pelo aro das estrelas
A compasso retido em mente pura
E avivado nos vidros das janelas.
Começa pelo peito das baías
Ao rosar-se e crescer na madrugada
Que lhe passa ao de leve as orlas frias.
E, de assim começar, é abstracto e imenso:
Frio como a evidência ponderada,
Quente como uma lágrima num lenço.
Coração começado pelos peixes,
És o golfo de todo o esquecimento
Na mínima lembrança que me deixes,
E a Rosa dos Ventos baralhada:
Meu coração, lágrima inchada,
Mais de metade pensamento.
O conto de Nikolai Gógol ( 1809-1852), o Retrato, narra a história de um quadro que desperta o desejo de agir de forma maléfica em todos os que entram em contacto com ele. A causa, uns olhos diabolicamente pintados que se revelam nocivamente vivos.
O jovem pintor, Tchartkov, adquire o quadro no Mercado Chiúkin, e, repentinamente, como se tivesse sido tocado por uma doença, troca o seu talento por uma vida supérflua e auto-destrutiva.
É, antes de tudo, um excelente exercício reflexivo sobre a arte e a vida; sobre os valores; sobre a duplicidade que existe em cada ser, mas que vive oculta nas profundezas da alma.
Digo, uma narrativa apaixonante.
Existe um grande número de pessoas na sala de leitura, mas uma há que não está ciente delas. As pessoas estão dentro dos livros. Movem-se, por vezes, dentro das páginas, como dormentes alternando-se entre dois sonhos. Ah, como é bom estar entre pessoas que lêem.
Rilke
Encarar a vida pela frente... Sempre... Encarar a vida pela frente, e vê-la como ela é... Por fim, entendê-la e amá-la pelo que ela é... E depois deixá-la seguir... Sempre os anos entre nós, sempre os anos... Sempre o amor... Sempre a razão... Sempre o tempo... Sempre... As horas.
Virginia Woolf
A Literatura não é teoria, é paixão.
Tzvetan Todorov
Gosto de olhar Em Busca do Tempo Perdido, como uma obra de retratos. Proust era dotado de um dom de observação agudo e através dele descreve primorosamente o ser das suas personagens, colocando-as no Tempo. Com a sua imaginação transfiguradora, preenche-as de cor e palavras, adensando os retratos que representam a sociedade do seu tempo.
Um pintor retratista que faz da literatura uma crónica do Tempo.
A face humana é igual à daqueles deuses orientais: várias faces sobrepostas em diferentes planos, e é impossível ver todas elas de uma só vez.
Falar é uma necessidade, escutar é uma arte.
Goethe
A linguagem, o mais perigoso dos bens.
Hölderlin
Há sempre algo de ilimitado no desejo.
Simone Weil
A ignorância não é apenas um espaço em branco no mapa mental de uma pessoa. Tem contornos e coerência, e tanto quanto sei, também tem regras operacionais. Como corolário à recomendação para escrevermos sobre o que conhecemos, talvez seja útil adicionar a recomendação para nos familiarizarmos com a nossa ignorância.
Thomas Ruggles Pynchon, Jr. (Long Island, 8 de Maio de 1937)
Quando à tua frente se abrirem muitas estradas e não souberes a que hás-de escolher, não te metas por uma ao acaso, senta-te e espera. Respira com a mesma profundidade confiante com que respiraste no dia em que vieste ao mundo, e sem deixares que nada te distraia, espera e volta a esperar. Fica quieta, em silêncio, e ouve o teu coração. Quando ele te falar, levanta-te, e vai para onde ele te levar.
Susanna Tamaro
Ah, povo, povo, quanto te enganaram
sonhando os sonhos que desaprenderas!
e quanto te assustaram uns e outros,
com esses sonhos e com o medo deles!
E vós, políticos de ouro de lei ou borra,
guardai no bolso imagens de outras Franças,
ou de Germânias, Rússias, Cubas, outras Chinas,
ou de Estados unidos que não creem
que latinada hispânica mereça
mais que caudilhos com contas na Suiça (…)
Jorge de Sena – in: Não, não, não subscrevo.
Revista VISÃO Nº 950 – 19 a 25 de Maio de 2011 – Pág.60
Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso.
Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.
Clarice Lispector (1920-1977)
A liberdade é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade do dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espírito, todas da alma: és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre. E não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo, mas do Destino para si somente. Ai de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria, te força a seres escravo. Ai de ti, se, tendo nascido liberto, capaz de te bastares e de te separares, a penúria te força a conviveres. Essa, sim, é a tua tragédia, e a que trazes contigo. Nascer liberto é a maior grandeza do homem, o que faz o ermitão humilde superior aos reis, e aos deuses mesmo, que se bastam pela força, mas não pelo desprezo dela.
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego
Quantas madrugadas tem a noite?
sophia de mello breyner andresen