Brinca! Pegando numa pedra que te cabe na mão,
sabes que te cabe na mão.
Qual é a filosofia que chega a uma certeza maior?
Nenhuma, e nenhuma pode vir brincar à minha porta.
Alberto Caeiro
Pouco me importa.
Pouco me importa o quê? Não sei: pouco me importa.
Alberto Caeiro, Poemas Inconjuntos
Sejamos simples e calmos como os regatos e as árvores.
Alberto Caeiro
Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem; cada um como é.
Alberto Caeiro
O meu olhar azul como o céu
É calmo como a água ao sol.
É assim, azul e calmo,
Porque não interroga nem se espanta ...
(...)
Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos - Poema XXIII
Passa uma Borboleta
Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move,
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor.
Alberto Caeiro, Guardador de Rebanhos
A construção da Pessoa pressupõe uma ultrapassagem manifesta do corpo próprio espelhado no tu.
A identidade do eu emerge da consciência reflexiva que o homem tem do mundo e de si, perante o outro. Permanentemente somos um ser no mundo, com o outro, num encontro quotidiano e banal; mas criador.
E sentimos que a falta original resulta da existência primordial do outro, enquanto tu.
E deste estar com, surge o risco do desejo insatisfeito.
Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões da província.
Sou eu mesmo, que remédio!...
A. Caeiro
sophia de mello breyner andresen