Qualquer homem sensato reconhece os limites do seu saber e da sua acção. Ora, o problema de Passos Coelho não reside na explicação da estratégia ao país, mas na estratégia da explicação. É indispensável para o orador conhecer o auditório sobre o qual exerce a acção. Passos Coelho demonstra não o saber, é um político afastado da vida, rodeado de gente que gosta da frescura do ar condicionado dos gabinetes. Quando assim é, o princípio da discutibilidade torna-se inoperante.
Hoje recordei um episódio lido há tempos numa incursão feita ao campo da argumentação. A pedido da rainha Cristina da Suécia ocorreu em Roma, em 1674, um debate sobre a condição humana.
Perguntava-se:
O que seria mais razoável: o riso de Demócrito, que de tudo zombava, ou o pranto de Heraclito, que por tudo chorava?
Sabemos o que é uma mentira. Sabemos que não é a mesma coisa que uma falácia. Enquanto a mentira é uma informação falsa, propositada, e desviada dos factos reais, a falácia (falaz) remete para a ideia de decepção, de engano e fraude.
A falácia enquanto argumento falso, não provoca vítimas, antes discussão racional.
(...) Assim, uma falácia não é apenas um erro: é um erro de certo tipo, que resulta de um raciocínio impróprio ou fraudulento. A falácia tem todo o aspecto de um argumento correcto e válido, embora não o seja. Esse é o seu grande perigo: parece correcto, mas não é, além de que leva a outros erros de pensamento, como conclusões erradas.
Fredric Litto
Enquanto falamos, não nos matamos.
O. Rebul
A argumentação, enquanto exercício de tolerância e de abertura ao outro, exclui sempre a violência. E se não for constrangedora nem arbitrária, torna-se um exercício de liberdade.
sophia de mello breyner andresen