A liberdade abstracta é uma servidão real.
Nas horas baças que pedem um novo renascer, volto-me na direcção do "sítio geográfico vital gravado nos cromossomas". Gesto que me faz sentir, repito-o, que as fragas são firmes, as árvores nascem, a lua é bela, os homens são promessas. "E sinto Paz".
Não sei se vês, como eu vejo.
Pacificado,
Cair a tarde
Serena
Sobre o vale,
Sobre o rio,
Sobre os montes
E sobre a quietação
Espraiada da cidade.
Nos teus olhos não há serenidade
Que o deixe entender.
Vibram na lassidão da claridade.
E o lírico poema que me acontecer
Virá toldado de melancolia,
Porque daqui a pouco toda a poesia
Vai anoitecer.
Miguel Torga
Chaves, 6 de Setembro de 1986
Existir. É tudo o que me pode acontecer. Contingência absoluta. Sem razão, o Nada. Porque hoje é um dia qualquer. Mas, e não por fraqueza, bom, para visitar Bouville.
Reverberações de um Domingo quase verão: é urgente proteger o exercício da profissão docente.
O homem parte sempre da sua circunstancialidade para configurar a realidade. Mergulhando nela, constrói significações que traduzem uma visão do mundo e da vida. A arte é espelho desta condição, mas acrescenta-lhe realidade, o que é fascinante. Pela arte, nasce uma nova consciência e a realidade ganha um sentido profundamente humano. Pela arte, conciliamo-nos com o mundo.
Concordo. Esta Avaliação, Não.
Leia aqui.
Um círculo é, no limite, um polígono com infinitos lados.
Obrigada, Teresa Pereira, pelas saborosas discussões matemáticas.
Cai o dia na Foz.
O mar anterior a tudo permanece coevo nos seus mistérios.
Mas a linha do horizonte continua infinita.
Há tanto acontecer naquilo que não se vê,
Mas se perscruta.
Inexoravelmente. Preito!
É tão difícil ser escravo!
O Direito à greve pertence a todos os que de outra forma não são ouvidos. É a sua linguagem, disse Martin Luther King.
O Homem é herdeiro de experiências: vivemos o presente sempre com o passado às costas.
Hoje, numa aula de Filosofia A, para explicar o porquê do trabalho a realizar, li um pequeno poema.
Gostaram. E perceberam.
Uma centopeia vivia feliz
Até que um dia um sapo lhe disse, a brincar:
Com tantos pés, nunca te enganas, meu petiz?
Cheia de dúvidas de tanto pensar
Caiu distraída numa vala
sem saber como marchar.
(retirado do livro, Uma tarde com o Sr Feynman)
Preparo e preparo as matérias que lecciono. Mas depois, na sala de aula, nunca vou a direito.
O caminho não se faz em ziguezague. São círculos abertos, coloridos de falas, que remetem para mais mundo.
A música é a roupagem do Sonho.
Como nos ensina Platão, a amizade é o cultivo do belo, da sabedoria e até do divino. É um dinamismo que nos aproxima e fixa em algumas pessoas. Em outras não. É um itinerário iniciático e dialéctico, conduzido pela mão de Diotima.
Os encontros com a minha amiga Olga Rocha desafiam-me e inquietam-me, mesmo que tenham a duração de um instante.
Esse lado breve mas imutável das relações representa, para mim, um tempo certo e uma escala de valoração, provando que nem tudo se dissolve no ar.
Foi então que apareceu a raposa.
- Olá, bom dia! - disse a raposa
- Olá bom dia! - respondeu delicadamente o principezinho que se voltou mas não viu ninguém.
- Estou aqui - disse a voz - debaixo da macieira.
- Quem és tu? - perguntou o principezinho. - És bem bonita...
- Sou uma raposa - disse a raposa.
- Anda brincar comigo - pediu - lhe o principezinho. - Estou tão triste...
- Não posso ir brincar contigo - disse a raposa. - Não estou presa...
- Ah! Então desculpa! - Disse o principezinho.
Mas pôs-se a pensar, a pensar, e acabou por perguntar:
- O que é que "estar preso" quer dizer?
- Vê-se logo que não és de cá - disse a raposa. - De que é que tu andas à procura?
- Ando à procura dos homens - disse o principezinho. - O que é que "estar preso" quer dizer?
- Os homens têm espingardas e passam o tempo a caçar - disse a raposa. - É uma grande maçada! E também fazem criação de galinhas! Aliás, na minha opinião, é a única coisa interessante que eles têm. Andas à procura de galinhas?
- Não - disse o principezinho. - Ando à procura de amigos. O que é que "estar preso" quer dizer?
- É uma coisa que toda a gente se esqueceu - disse a raposa. - Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.
- Laços?
- Sim, laços - disse a raposa. - Ora vê: por enquanto, para mim, tu não és senão um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto, para ti, eu não sou senão uma raposa igual a outras cem mil raposas. Mas, se tu me prenderes a ti, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E, para ti, também passo a ser única no mundo...
- Parece que estou a começar a perceber - disse o principezinho. - Sabes, há uma certa flor...tenho impressão que estou preso a ela...
(...).
Antoine de Saint - Exupéry, O Principezinho
Há laços que perduram.
sophia de mello breyner andresen