Ano após ano, o tema da consciência em Sartre obriga-me a reler uma das suas grandes obras o Ser e o Nada. A abordagem sartreana desta instância, que nos leva ao conhecimento, é fascinante. O autor liga o tema, ainda que por contraposição, à arte. Além disso, e por extensão, tenho particular interesse em explorar os temas da solidão e da infelicidade que, sabemos, estão subjacentes ao próprio acto da consciência. Na tentativa de superar o negativismo e o solipsismo provenientes das relações do homem com o mundo e consigo próprio, Sartre analisa as relações do Eu com o Outro, bem como as relações do Eu com o Mundo, concluindo que o Eu não está só. Deste ponto de vista, Sartre esclarece que antes da relação cognitiva entre o Eu e o Outro, há a relação que ambos estabelecem mutuamente através do olhar, lugar primeiro das relações intersubjectivas. Como salienta Sergio Moravia, a descoberta mais dramática tem lugar quando o Outro levanta os olhos e me observa, um leve piscar de olhos, reduzindo a neutralidade entre o Eu e o Outro. Assim, neste gesto, se define o Eu enquanto ser-para-outro: eu sou aquele eu que um Outro conhece. Pelo olhar, formam-se os espelhos; pelo olhar, presentificamos o Mundo.
O filósofo francês Blaise Pascal (1623-1662), salienta que a consciência é o melhor livro de moral e o que menos se consulta.
A Revista Portuguesa de Filosofia, tomo 66-Fasc4, 2010, inclui um artigo Sobre a Mente Consciente na Natureza de Samuel Butler, apresentado por Manuel Curado. No resumo pode ler-se que Butler foi um dos primeiros autores a compreender que o evolucionismo de Darwin precisa de ser completado com uma reflexão sobre a evolução das máquinas. O estudo paralelo salienta a dificuldade da abordagem do campo de estudo da evolução da mente senciente. O artigo conjectura a favor de uma noção de mente alargada: se existe uma evolução paralela de autómatos e de seres orgânicos desde o inicío da vida na Terra e se os organismos biológicos evoluem lado a lado com próteses mecânicas e é previsível que existam no futuro formas de simbiose entre humanos e máquinas, segue-se que a mente humana deverá ser entendida num sentido mais alargado do que o habitual.
Darei conta por aqui da leitura deste artigo fascinante.
sophia de mello breyner andresen