O Homem vive simultaneamente como sujeito livre e objecto determinado...
Bem a propósito, aconselho a leitura do seguinte trecho de Karl Marx presente no artigo de Terry Eagleton "O Imaginário Kantiano" na Revista Crítica (Revista do Pensamento Contemporâneo), na edição de Novembro de 1991, pág. 70.
Nos nossos dias, tudo parece prenhe do seu contrário. Sendo nós uma maquinaria dotada do maravilhoso poder de reduzir e fazer frutificar o trabalho humano, contemplamos a fome e a morte por excesso de trabalho. As fontes de riqueza da moda são convertidas, por uma estranha magia, em fontes de penúria. As vitórias da arte parecem ser compradas com a perda do carácter. Na mesma medida em que a humanidade domina a natureza, parece ter sido o homem escravizado por outros homens e pela própria infâmia. Mesmo a luz pura da ciência parece incapaz de brilhar a não ser sobre o fundo escuro da ignorância. Toda a nossa invenção e todo o nosso progresso parecem ter como consequência dotar as forças materiais de vida intelectual e reduzir a vida humana a uma força material. Este antagonismo entre a indústria e a ciência modernas, por um lado, e miséria e dissolução, por outro; este antagonismo entre as forças produtivas e as relações sociais, na nossa época, é um facto pálpavel, esmagador, que não pode ser desmentido.
Um público comprometido com a leitura é crítico, rebelde, inquieto, pouco manipulável e não crê em lemas que alguns fazem passar por ideias.
Mário Vargas Llosa
sophia de mello breyner andresen