Quem Poderá Calcular a Órbita da sua Própria Alma?
As pessoas cujo desejo é unicamente a auto-realização, nunca sabem para onde se dirigem. Não podem saber. Numa das acepções da palavra, é obviamente necessário, como o oráculo grego afirmava, conhecermo-nos a nós próprios. É a primeira realização do conhecimento. Mas reconhecer que a alma de um homem é incognoscível é a maior proeza da sabedoria. O derradeiro mistério somos nós próprios. Depois de termos pesado o Sol e medido os passos da Lua e delineado minuciosamente os sete céus, estrela a estrela, restamos ainda nós próprios. Quem poderá calcular a órbita da sua própria alma?
Oscar Wilde, De Profundis
Censuro-me por ter permitido que uma amizade não intelectual, uma amizade cujo fim primeiro não foi a criação e contemplação das coisas belas, dominasse inteiramente a minha vida.
Oscar Wilde, De profundis, Relógio D`Agua, Tradução Maria Célia Coutinho, 2001, pp 11
De Profundis, de Óscar Wilde (1854 - 1900). Epístola escrita na prisão ao seu amante lord Alfred Douglas.
“Posso ser perfeitamente feliz sozinho. Com liberdade, flores, livros e a lua quem não poderia ser perfeitamente feliz?”.
De Profundis - Poesia II, de Tomaz de Figueiredo (1902 - 1970). Poema onde a escrita é de memórias e de interrogação radical sobre o Homem, o Mundo e Deus.
Punhal de instante a instante, de hora a hora,
Do mês e ano, o do galope frio,
Cruel, do Tempo, indomável, for a
Do Querer! Arrebatada pelo Rio
Do tempo a última Filha… Uma Senhora
A fazer-se, e ao longe, e arredio
De seu riso e luz consoladora,
Do seu amor; de a amar; do amado lio
Dos seus braços de Filha, ao mandado
nocturno e infernal do lobo hirsute
que se diz Homem! Para sempre adeus
à menina dos olhos, que a seu lado
vê sempre, sem a ter! O crime bruto
do roubo da Alma clama a Deus. Há Deus?
De Profundis, de José Cardoso Pires (1925 - 1998 ). Narrativa desconcertante onde a anarquia das palavras e a perda de si próprio marcam o ritmo.
Hoje não será citado. Reconfiguro o pensamento.
sophia de mello breyner andresen