dia perfeito para desenhar o sono
ao som das árvores despertas
vibrações em signos olham
ondulações incompletas. enquanto o sol dormente
procura a distância
na fúria do silêncio.
mar suspenso vagueia pelas margens
sacode a ventosa clareira
mas intacto é o dia
espuma branca. enquanto o sol dormente
adivinha as palavras simples.
Esta imagem vai muito bem com as cores da estação.
Narrativa que nos diz: quanto mais silêncio houver num dia, melhor ele é. Inundação profunda; até à raiz.
Reverberações de um Domingo quase verão: é urgente proteger o exercício da profissão docente.
Na sua crónica de Domingo, Frei Bento Domingues diz-nos que há escritores que procuram no silêncio a profundidade da existência. Destaca Etty Hillesum, uma judia holandesa, morta em Auschewitz aos vinte e oito anos. Frei Bento Domingues transcreve, no Público, fragmentos do seu Diário (1941-1943); fragmentos que dão conta da resistência à humilhação que os nazis procuravam impor aos judeus.
(...) Podem tornar-nos as coisas algo complicadas, podem roubar-nos alguns bens materiais, alguma aparente liberdade de movimento, mas somos nós que cometemos o maior roubo a nós próprios.(...) Bem podemos, às vezes, sentirmo-nos tristes e abatidos por causa daquilo que nos fazem, isso é humano e compreensível. Porém, o maior roubo que nos é feito somos nós mesmos que o fazemos. Eu acho a vida bela e sinto-me livre.
O desafio do Ser? Pensar. Interpelação- subjectiva e objectiva- que afronta a luminosidade do lusco-fusco da existência.
No tempo parado, há um embate de vozes reais no espelho imaginário em que nos vemos; vozes do esquecimento e da memória.
Em cada domingo, arrastamos o corpo até à alma.
Olharei a tua sombra se não quiseres que te olhe a ti, diz Maria Madalena, e Jesus Cristo responde: quero estar onde a minha sombra estiver, se lá é que estiverem os teus olhos.
Pública, 27.03.11, p. 26
Assim se contam os domingos, com palavras de Manuel da Fonseca 1911-1933- ( e não de Almada Negreiros como o vídeo apresenta) e voz de Mário Viegas.
DOMINGO
Quando chega domingo, faço tenção de todas as coisas mais belas que um homem pode fazer na vida.
Há quem vá para o pé das águas deitar-se na areia e não pensar…
E há os que vão par ao campo cheios de grandes sentimentos bucólicos porque leram, de véspera, no boletim do jornal: «Bom tempo para amanhã»…
Mas uma maioria sai para as ruas pedindo, pois nesse dia aqueles que passeiam com a mulher e os filhos são mais generosos.
Um rapaz que era pintor não disse nada a ninguém e escolheu o domingo para se matar.
(...)
Manuel da Fonseca
sophia de mello breyner andresen