Somos todos prisioneiros do labirinto do Tempo. Um sufoco, que urge viver. É este o paradoxo de que se alimentam os homens. É esta a aventura humana.
A nossa situação é a de Teseu caminhando às escuras num labirinto a que o fio de nenhum amor conduzirá ao lugar vazio de um Minotauro inexistente. O apocalipse não nos vem do exterior. Somos nós quem o transporta.
Eduardo Lourenço, O Espelho Imaginário
Lisboa é o único sítio do país onde se pode encontrar a província em estado puro. Como é ela que dá o tom ao país, a província chega-me de lá depurada e aumentada. “Também é bonito”, dizia um excursionista lisboeta quando o carro eléctrico onde eles davam a volta à cidade para não a verem, passou em frente do Jardim Botânico. “Sim…- concordou outro – mas o nosso da Estrela…”. É muito pândego este alfacinha, para não passar por provinciano acha-se na obrigação de não admirar como, segundo ele, imagina faz o provinciano da província na sua Lisboa. Como sempre, os exteriores tocam-se mais ainda, assim prefiro de longe a admiração lorpa da pobre grande gente da minha aldeia. A admiração é o princípio da sabedoria.
Eduardo Lourenço
A propósito do livro de Gonçalo M. Tavares, Uma Viagem à Índia, Eduardo Lourenço, no Prefácio, diz:
“Uma Viagem à Índia, com consciência aguda da sua ficcionalidade, navega e vive entre os ecos de mil textos-objecto do nosso imaginário de leitores. Como todos os grandes livros, e este é um deles." E "que todas as viagens são sempre um regresso ao passado de onde nunca saímos".
Gonçalo M. Tavares parte de um grande objecto ficcional e relata-nos a viagem existencial de um homem.
Todas as viagens são um regresso à Índia. À nossa infância.
A ler.
Os portugueses vivem permanentemente entre dois mundos: o caótico indesejado e um ideal revelado que chegue não se sabe de onde.
Esta oposição encerra o tom em que tecemos a labiríntica História de sinais apocalípticos.
Chegou o tempo de existirmos e de nos vermos tais quais somos, diz Eduardo Lourenço em O Labirinto da Saudade.
Navegar continua a ser preciso.
sophia de mello breyner andresen