Ainda esta semana, na secretaria da escola, fui prontamente corrigida ao designar o grupo disciplinar em que lecciono: - Não professora, 410.
Um texto, oportuno, onde, através de um jogo de linguagem, se pensa a Escola e os seus desafios actuais.
Não é possível separar a crise do ensino da Filosofia da crise da Escola, mas é indubitável: a escola vence a filosofia, que vive acantonada sem dar sinais de resistência.
Atacar os professores é não mais do que atacar a escola no seu todo, a instrução, o ensino, a possibilidade de transmitir conhecimentos e de acordar ou alimentar espíritos críticos, atentos, capazes de ver para além do imediatamente visto.
E isto interessa a quem não quer ser atacado, a quem, podendo desmedidamente mandar, faz acontecer o seu poder de forma cega, cegando quem interessa mandar.
Podem propagandear toda a pseudopedagogia domingueira que quiserem: se atacar os professores, os alunos e, no fundo, a Escola toda, não é exercer a ditadura, então o que é exercer a ditadura?
João Coelho (Comentário ao post Guardiões do Presente)
Artigo de José Luís Peixoto, publicado na revista Visão de 13 de Outubro de 2011:
Um ataque contra os professores é sempre um ataque contra nós próprios, contra o nosso futuro. Resistindo, os professores, pela sua prática, são os guardiões da esperança.
Em sintonia. Guardiões do presente, sem ele não há futuro.
Aqui
Reverberações de um Domingo quase verão: é urgente proteger o exercício da profissão docente.
Na Antiguidade clássica, os primeiros mestres, itinerantes, foram vistos de forma misteriosa e escutados em silêncio sabedor. Hoje, os silêncios são de outra natureza.
Encimei o post com um título respigado no blogue De Rerum Natura.
Segundo o modelo, todo o professor excelente deveria ser um rigoroso planificador. Um rigoroso planificador das actividades que pretende desenvolver, dos meios e recursos que pretende utilizar e dos tipos de avaliação que pretende realizar. A ênfase que é atribuída, no modelo revogado, ao rigor «planificador» do docente, quase faz supor que é mais importante a planificação do que o próprio acto de ensinar e do que o próprio processo de ensino-aprendizagem. Ora, uma coisa é um plano de aula em que o professor tem de saber o que vai fazer (ou o que pretende que se faça) e como vai fazer (ou como pretende que se faça), outra coisa é pretender-se transformar esse plano de aula numa detalhada planificação que condiciona o acto de ensinar e o acto de aprender a uma sucessão de comportamentos previamente delineados.
O acto de ensinar deve ser planeado, mas não deve ser burocratizado. E deve ser planeado segundo o modo que a experiência do professor o ditar e segundo o modo que a necessidade da turma o aconselhar.
Publicado por Mário Carneiro
Concordo. Esta Avaliação, Não.
Leia aqui.
A profissão de professor, também este um termo algo opaco, suporta todas as nuances possíveis entre, num extremo, na forma de vida rotineira e desencantada e, no outro, um elevado sentido de vocação. Compreende numerosas tipologias que vão desde a do pedagogo destruidor de espíritos à do Mestre carismático. Imersos como estamos em formas de ensino quase inumeráveis - elementar, técnico, científico, humanista, moral e filosófico - raramente nos distanciamos o suficiente para reflectir sobre as maravilhas da transmissão de conhecimentos, os recursos da falsidade e aquilo a que chamaria, à falta de um termo mais preciso e concreto, o mistério da função.
George Steiner, As Lições do Mestre, Gradiva, 2005, pp11
A análise, das relações entre mestre e discípulo, converte-se numa Lição.
Explicação simplificada - diz Steiner - do cruzamento dos eixos do tempo sobre a problemática do ensino e da aprendizagem.
Acentua a marca de transmissão de conhecimentos.
Recorda a etimologia da palavra transmissão (tradendere). Relaciona-a com a de traditio (o que foi transmitido) e com as de traição e tradução.
Salienta, de forma magistral, que a forma mais honesta de autoridade didáctica se faz através do exemplo.
E que o ensinamento é acção e silencioso; e oralidade.
Aqui o Mestre fala.
Não há ofício mais privilegiado. É trans-missão.
Re-comecemos a Lição.
sophia de mello breyner andresen