Vivemos numa sociedade a que Mumford chamou de "megamáquina". Neste tipo de sociedade, regida por princípios contrários a uma visão humanística, as funções do governo são delegadas em aglomerados imensos, uma máquina centralmente dirigida, onde, a longo curso, as pessoas passam a existir sem capacidade crítica, tornam-se fracas, passivas e anseiam por um dirigente que "saiba" o que fazer. Neste momento, em Portugal, o modelo burocrático ganha raízes nas escolas.
Esta máquina, tal como um automóvel, funciona praticamente por si só. A pessoa que se encontra por detrás só tem que meter as mudanças, conduzir e travar, prestando atenção a alguns pequenos detalhes: aquilo que no carro ou noutra máquina representam as várias rodas, na "megamáquina" são os muitos níveis de administração burocrática. Até um indivíduo de inteligência medíocre pode facilmente dirigir um Estado, a partir do momento em que se encontre no lugar do poder.
(Adaptado de Ter ou Ser, Erich Fromm)
É incomensurável a infelicidade profunda que se esconde por detrás da aparência confortante do homem moderno. Hoje o mundo é povoado por seres impotentes, paralisados na necessidade constante de iniciativa e de empreendedorismo. Quando estalar o verniz, o perigo soltar-se-á: " O desespero do autómato humano é terreno fértil para os objectivos políticos do fascismo."
O homem é o único animal que pode sentir-se aborrecido, que pode sentir-se expulso do Paraíso.
Erich Fromm
sophia de mello breyner andresen