O vocábulo "música" designava para os gregos, não só a música propriamente dita, mas todas as belas-artes, assim como a cultura do espírito em geral.
Platão esclarece no Fédon (Prólogo), esta questão:
No curso da minha vida, tinha sido, com frequência, visitado por um sonho, hoje sob uma forma, amanhã sob outra, o qual me aconselhava constantemente a mesma coisa: Ó Sócrates, dizia ele, trata de cultivar a música e dedica-te a isso. Ora eu julgava que àquilo, que na vida passada tinha feito, me exortava e incitava o sonho. Semelhante aos que animam os corredores, assim ele, na minha opinião, me animava também a prosseguir o que tinha principiado - a dedicar-me à música, pois não existe música, pensava eu, mais excelente que a filosofia, à qual eu me dedico.
O mito de Orfeu exerce forte atracção no imaginário da cultura ocidental.
Encontramos vestígios deste mito na música - Montiverdi, Offenbach, Liszt, Casella, Stravinsky - e no cinema.
Na pintura, o poeta Apollinaire criou o termo cubismo órfico influenciando pintores como Delaunay, Picabia e Duchamp.
Orfeu, ao que sabemos, foi um poeta de grande habilidade musical e um mestre do encantamento.
Mas é Platão que o eleva, ainda na época clássica, a figura principal.
Tantos trabalhos passou Orfeu para trazer Eurídice do Hades. Mas olhou para trás; para o corpo, para o sensível. Perdeu-se.
Começa aqui a compreensão da obra Fédon de Platão.
sophia de mello breyner andresen