Em O Amigo, Agamben apresenta-nos o heteros autos como alteridade imanente na mesmidade e define a amizade nos limites da con-partilha. Não há na amizade nenhuma relação entre sujeitos: é o próprio ser que é dividido, que não é idêntico a si, e o eu e o amigo são as duas faces - ou antes os dois pólos - desta con-partilha. Tendo como pré-texto um trecho da Ética Nicomaqueia de Aristóteles e depois de termos sido convidados a fazer a leitura em conjunto, Agamben discursa sobre a relação humana da amizade e sobre as bases ontológicas e políticas em que se auto-sustenta.
A amizade é a instância desse con-sentimento da existência do amigo no sentimento da sua própria existência.
Agamben é um pensador instigante.
Obriga o pensamento a curvar-se até às raízes para encontrar os sentidos da palavra guardados em segredo.
Estica as palavras, por inclusão ou exclusão, mas sempre por excesso.
Nudez é um conjunto de ensaios sobre a contemporaneidade - nua - onde os conceitos de belo, festa, ócio, lúdico, vão sendo cerzidos por uma escrita que viaja entre a metafísica (pós-metafísica) e os costumes.
Aqui o homem é reduzido à sua autenticidade, à sua vida nua; e o instante é soberano.
Por detrás da veste de graça pressuposta, nada há e a nudez é precisamente este nada ter por detrás de si, este ser pura visibilidade e presença.
Giorgio Agamben, Nudez, Relógio D´Água
Em toda a lamentação, o que se lamenta é a linguagem, assim como todo o louvor é, antes de mais, louvor do nome. Estes são os extremos que definem o âmbito e a vigência da língua humana, e o seu modo de se referir às coisas. Aí, onde a natureza se sente atraiçoada pela significação, começa a lamentação; onde o nome diz perfeitamente a coisa, a linguagem culmina no canto de louvor, na santificação do nome.
Giorgio Agamben, A Comunidade que Vem, Presença, 1993, tradução de António Guerreiro, pp 48.
Agamben convida-nos a fazer parte de uma comunidade sem pressupostos, sem reivindicações identitárias e formada por singularidades - um ser qualquer - onde se escape à alienação da linguagem.
Aqui, as palavras não são levadas a um estado de esgotamento através da sua "declinação"; não morrem de fadiga.
Na comunidade que vem, resiste-se ao fascínio de proferir o que quer que seja de maneira absoluta; o ser é o ser-assim; perfeitamente comum.
sophia de mello breyner andresen