Sexta-feira, 27.07.12

Deambulando pelas teorias da recepção da obra literária, vou abrindo o terreno para cimentar as questões que me ocupam: Há uma leitura ideal? Há uma simetria perfeita entre o leitor e a obra?
Aceito de modo natural a proposta crítica de Fish- o que existe é a comunidade interpretativa- mas Barthes inquieta o pensamento quando opta por matar o autor e fazer nascer o leitor. A ser assim, e segundo a perspectiva textual barthesiana, o verdadeiro lugar da escrita é a leitura, o verdadeiro exercício está no leitor enquanto espaço onde todas as palavras do texto são inscritas.

Assim se revela o ser total da escrita: um texto é feito de escritas múltiplas, saídas de várias culturas e que entram umas com as outras em diálogo, em paródia, em contestação; mas há um lugar em que essa multiplicidade se reúne, e esse lugar não é o autor, como se tem dito até aqui, é o leitor: o leitor é o espaço exacto em que se inscrevem, sem que nenhuma se perca, todas as citações de que uma escrita é feita; a unidade de um texto não está na sua origem, mas no seu destino, mas este destino já não pode ser pessoal: o leitor é um homem sem história, sem biografia, sem psicologia; é apenas esse alguém que tem reunidos num mesmo campo todos os traços que constituem o escrito.

 

Roland Barthes, A Morte do Autor


 



publicado por omeuinstante às 21:09 | link do post

Quinta-feira, 26.07.12

É incontornável. A questão da temporalidade da leitura de um texto obriga a atenção a dirigir-se para a distinção barthesiana entre textos de prazer e textos de gozo. Os textos de prazer, os clássicos, abrem-se ao entendimento do leitor sem sobressaltos; os textos de gozo, modernos, forçam a captação da sua inteligibilidade sob pena de fazer cair o leitor numa lentidão irreversível. 

O que é que confere, então, rapidez à leitura? O que é que sistematiza a legibilidade? Roland Barthes diz que não há critérios objectivos para definir as práticas textuais, uma vez que só o próprio texto baliza o gozo do tempo de mergulho e a sua fenda. E depois, há sempre os livros que oferecem resistência.

Ser legível é um modelo clássico vindo da escola: ser legível é ser lido na escola.

 


 




publicado por omeuinstante às 19:00 | link do post

443245.jpeg
Sem a música, a vida seria um erro. Nietzsche
links
posts recentes

O Nascimento do Leitor

Do Tédio e do Gozo

Junho 2020
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6

7
8
9
10
11
12
13

14
15
16
17
18
19
20

21
22
23
24
25
26

28
29
30


tags

arte

cinema

david mourão-ferreira

educação

estética

eugénio de andrade

fernando pessoa

filosofia

fragmentos

leituras

literatura

livros

miguel torga

música

noctua

pintura

poesia

política

quotidiano

sophia de mello breyner andresen

todas as tags

arquivos

Junho 2020

Maio 2020

Junho 2019

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Janeiro 2018

Outubro 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

blogs SAPO