Imagine que um dia alguém se aproxima de si na rua e em vez de lhe perguntar polidamente as horas, ou onde fica a rua tal, lhe perguntava com a maior naturalidade: importa-se de me dizer se sabe pensar?
(...)
Poucas pessoas terão alguma vez na vida perdido um minuto do seu sono a pôr ou a tentar resolver essa questão. Mas todas as pessoas perderam - e perdem continuamente - muito mais do que um minuto, uma hora ou uma noite inteira do seu sono, por não saberem pensar - por não quererem saber pensar.
Quero filhos, quero whisky, quero um ideal, quero uma casa de campo, quero um automóvel, quero um bife de lombo, quero a eternidade, quero um perfume francês - mas nunca ouvi da boca de ninguém isto: quero saber pensar.
João de Sousa Monteiro, Tire a Mãe da Boca, Assírio & Alvim, Lisboa, págs. 34 e 35.
sophia de mello breyner andresen