Novo ensaio de José Gil. Ainda não o li, mas disseram-me hoje que é um texto excelente sobre os enigmas da heteronímia pessoana.
Em Portugal nada acontece, "não há drama, tudo é intriga e trama", escreveu alguém num graffiti ao longo da parede de uma escadaria de Santa Catarina que desce para o elevador da Bica. Nada acontece, quer dizer, nada se inscreve-na história ou na existência individual, na vida social ou no plano artístico.
Relógio D`Água, pág. 15
Contribuir para que passe o vento de um pensamento diferente.
José Gil
As dificuldades que qualquer discurso sobre o corpo tem de enfrentar.
Qualquer discurso sobre o corpo parece ter de enfrentar uma resistência. Ela provém certamente da própria natureza da linguagem: como para a morte ou para o tempo, a linguagem esquiva-se à intenção de definir: cada definição permanece um ponto de vista parcial, determinado por um domínio epistemológico ou cultural particular.(...)
Parece no entanto que a verdadeira dificuldade se encontra noutro lado. Manifesta-se na profusão, não das significações do corpo, mas do emprego metafórico deste termo. Ele está em todo o lado, tudo forma um corpo (...). A esta docilidade da linguagem equivale uma violência real exercida sobre o corpo: quanto mais sobre ele se fala, menos ele existe por si próprio.
José Gil, Metamorfoses do Corpo, A Regra do Jogo, 1980, p. 7
sophia de mello breyner andresen