O último filme do realizador iraniano Abbas Kiarostami, Copie Conforme, conta a história entre um homem, William Shimmel, historiador de arte, e uma mulher, Juliette Binoche, uma galerista. Tem como pano de fundo a cultura europeia ocidental do Renascimento, que valoriza o Homem em oposição ao Sagrado.
O tema desenrola-se à volta da questão: o que é que copia o quê, a arte ou a vida? As perguntas e as respostas preenchem o discurso, entrelaçando a arte e a vida.
O filme apresenta-se como um jogo sobre a dualidade da natureza humana. A linguagem metafórica, repleta de fragmentos, pela qual se alcançam as emoções mais profundas em cada ser, transforma-se num exame filosófico sobre o amor e sobre as relações que o tempo tece sobre a existência humana.
Uma vez que a religião perde influência, diz Kiarostami, a arte e a filosofia são as linguagens que a podem substituir como forma de dar sentido à vida.
Ficamos sem saber se é a arte que imita a vida ou é a vida que imita a arte. Mas sentimos o sabor, mais uma vez, de um grande filme de Kiarostami.
A não perder.
A mais elevada forma de arte é a arte de viver.
Kiarostami
Tendo como pretexto A História de Khosrow e Shirin, poema clássico da literatura persa do século XII, o realizador iraniano Abbas Kiarostami envolve-nos nos amores de uma princesa arménia pelo rei da Pérsia e no triângulo amoroso que resulta da paixão de Shirin por Farhad.
A construção hermenêutica da narrativa passa pelo olhar de 114 mulheres de várias gerações, e através duma banda sonora que partilha dos sentidos do discurso.
Uma vez que tudo está velado ao espectador, é pelas emoções que passam no rosto destas mulheres - choro, riso, contentamento, cumplicidades, prazer, sofrimento - que se dá o acesso ao entendimento. Em Shirin, o rosto é a porta das percepções.
Neste filme metafísico - o corpo é apenas som - nós somos observadores e observados, como se de um jogo de espelhos se tratasse.
É um filme onde se percebe que a chave da sabedoria anda perdida nos caminhos do Amor. Amor? "lágrimas de sete cores", ensina o poema.
Neste invisível presente, Shirin é cada um de nós.
Belíssimo. A não perder.
sophia de mello breyner andresen