O eterno espanto da certeza do momento...
Perante os abismos do antes e do depois, é natural que o homem tenha medo. E que, por isso, ria.
Manuel António Pina
Manuel António Pina 1943-2012
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Compreendo que os seres humanos procurem sempre um sentido ou um destino. É duro de mais saber que se existe para nada. São os grandes problemas filosóficos. Aquelas perguntas que nos fazem os nossos filhos: onde estava eu antes de ter nascido? O que nos acontece depois de morrer? São esses os grandes problemas filosóficos a que todos procuram responder: de onde vimos e para onde vamos. Toda a arte e toda a literatura reflecte isso. O Borges diz que toda a arte se resume a dois temas: o amor e a morte... e o tempo. O amor através do sexo está ligado ao abismo antes e a morte ao abismo do ser do depois, ao seu desaparecimento. São uma espécie daquilo que os astrónomos chamam horizontes opacos, a partir dali não se pode ver o antes e o depois. É natural que os homens se interroguem. Toda a arte, como toda a filosofia, são interrogativas."
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Entrevista de Nuno Ramos de Almeida a Manuel António Pina, 18 de Fev. 2012
sophia de mello breyner andresen