Somos nós os responsáveis pela guarda de nossos irmãos? Deveríamos ser? Ou essa função apenas atrapalharia os propósitos pelos quais estamos aqui na Terra — para produzir e consumir, segundo os economistas; para sobreviver e nos reproduzir, segundo os biólogos? Que essas duas visões pareçam tão semelhantes não é uma simples coincidência, uma vez que surgiram aproximadamente na mesma época e no mesmo lugar, em meio à Revolução Industrial inglesa. As duas adotam como princípio a ideia de que a competição é saudável.
Pouco tempo antes, e ligeiramente mais ao norte, na Escócia, o pensamento era outro. Adam Smith, o pai da economia, compreendia melhor do que ninguém que a luta em defesa de nossos interesses pessoais necessita ser temperada pelo sentimento de solidariedade. Ele defendeu esse ponto de vista em "A teoria dos sentimentos morais", um livro muito menos conhecido do que "A riqueza das nações". Smith iniciou seu primeiro livro com uma frase memorável:
Por mais egoísta que se possa admitir que seja o homem, é evidente que existem certos princípios em sua natureza que o levam a interessar-se pela sorte dos outros e fazem com que a felicidade destes lhe seja necessária, embora disso ele nada obtenha que não o prazer de a testemunhar.(...)"
O homem moral não pára de ambicionar sempre uma perfeição maior. O lutar por um grau de virtude cada vez maior é da essência da atitude moral.(…).
É esta aspiração constante por mais e melhor, que se renova com cada progresso moral, que constitui a lei fundamental da atitude ética.
J. Hessen, Filosofia dos Valores, Studium, p. 295
Mas eu não quero o conforto. Quero Deus, quero a poesia, quero o verdadeiro perigo, quero a liberdade, quero a bondade, quero o pecado.
A. Huxley
O que há de comum entre a arte e a moral, é que, nos dois casos, temos criação e invenção.
Sartre
O homem é, persistentemente, um criador de mundos.
sophia de mello breyner andresen