O Teatro da Rainha estreou no dia 4 de Outubro o espectáculo O Estranho Corpo da Obra.
Estive lá. Entrei sem grandes instrumentos hermenêuticos para decifrar esta excelente viagem aos bastidores da escrita do dramaturgo inglês Martim Crimp. Ainda assim, agarrei-me, de forma consistente, às palavras do encenador Fernando Mora Ramos onde descobri alguns marcadores deste novo território narrativo. Mas sem volta a dar, a escrita permanece sempre um corpo estranho.
Frente ao público, desfilam palavras, tensas, que se transformam em actos vividos e, por eles, acedemos ao mundo conflituoso da classe média burguesa, aos seus narcisismos e frustações. Como refere Mora Ramos, o teatro de Crimp é um verdadeiro Cavalo de Tróia crítico e cruel, cómico, no interior das consciências e do sistema burguês parlamentar" representativo" que serve o financismo. Confirma-se, estamos todos encurraladas: o escritor, o encenador, os actores e cada um dos espectadores. Crimp tem muita razão: Nada expõe com tanta nudez um texto como o palco (...).
sophia de mello breyner andresen